A alergia alimentar é definida como uma reatividade clínica mediada pela imunoglobulina E (IgE) a proteínas alimentares específicas. É uma doença multifatorial complexa, com fatores de riscos genéticos e ambientais que contribuem para sua patogênese. 

Nos últimos 30 anos passou a ser um problema cada vez mais comum em todo o mundo. A mais grave resposta alérgica do organismo, após a exposição a determinados componentes alimentares, é a anafilaxia que pode levar à morte. No entanto, a determinação de estatísticas de prevalência incontestáveis permanece indefinida porque existem muitas manifestações de alergia alimentar com diferentes gravidades, dependendo de variações geográficas, exposição à dieta, idade, raça, etnia e uma miríade de outros fatores que influenciam a prevalência. A prevalência de alergia alimentar em bebês e crianças em idade pré-escolar é de 5% a 10% no Japão, 4,4% a 5,3% no Reino Unido e 7,6% nos Estados Unidos.

Alergia alimentar em bebês e crianças com menos de 5 anos parece ser mais elevada em países ocidentais, em comparação com países asiáticos, mas a influência da exposição ambiental no início da vida pode alterar o efeito da predisposição genética, isso é observado quando indivíduos migram de uma região com característica populacional (Ex. Ásia) de baixa incidência, para um local de maior incidência (Ex. Austrália), havendo modificação na prevalência.

A microbiota parece desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento da alergia alimentar. A disbiose prejudica a resposta regulatória e promove doenças alérgicas. Os metabólitos derivados da dieta e do hospedeiro gerados por bactérias comensais regulam a tolerância imunológica da mucosa e promovem a integridade da barreira epitelial.

Em 2008, as recomendações para evitar alergênicos foram retiradas, pois os estudos que direcionavam a eliminação dos alérgenos não demonstraram prevenir o desenvolvimento. A questão de saber se a exposição precoce ou a evitação é a melhor estratégia para prevenir alergias alimentares permanece em aberto.

Tal como outras doenças alérgicas, a arquitetura genética da alergia alimentar parece envolver diversas variantes genéticas relativamente comuns de baixa penetrância e expressividade variável. De forma geral, as variantes genéticas contribuem com cerca de 15 a 35% das diferenças individuais observadas para a resposta de IgE, mas a suscetibilidade para alergia a alimentos específicos pode ter maior influência genética, conforme abordaremos na próxima postagem.

Estudos de genes candidatos e de associação genômica ampla (GWAS) vem tentando identificar genes associados à alergia alimentar e estão relacionados a esta condição diversos genes do sistema imunológico. Quando verificada a possibilidade de algum gene estar associado a condição de “qualquer alergia alimentar”, não foi encontrada associação significativa. Entretanto há associações significativas para genes e alergias específicas.

O complexo de antígeno leucocitário humano (HLA) tem sido uma das regiões genéticas mais comumente estudadas na pesquisa de alergia alimentar. As moléculas HLA são expressas em diversas células que possuem capacidade de apresentação de antígenos, como células B, macrófagos e monócitos, que são conhecidas por desempenharem um papel crítico no desenvolvimento de alergias. Estas moléculas apresentam peptídeos derivados de antígenos, principalmente de origem exógena, às células T auxiliares CD4+. Um dos principais passos para a resposta imune específica de antígenos é a apresentação de antígenos por moléculas HLA. 

Como essas moléculas HLA têm polimorfismos moleculares específicos confinados ao seu sulco de ligação ao peptídeo, esses polimorfismos podem alterar a afinidade de ligação das células apresentadoras de antígenos.

Os principais alérgenos subjacentes à maioria das reações alimentares incluem um número relativamente pequeno de alimentos: leite, ovos, amendoim, camarão e trigo e vamos abordá-los na próxima postagem do Blog.

A análise da predisposição genética para alergia a estes alimentos é realizada de forma completa no teste genético BioDiet Plus da Biogenetika. É a individualidade do cuidado aplicado de forma integral e na prática com os testes da Biogenetika que trazemos para você!

*Conceito de polimorfismo: são as variações na sequência de DNA que podem alterar as proteínas produzidas pelo organismo podendo gerando impactos para as vias envolvidas, metabolismo e saúde de quem as porta. Para ser considerado um polimorfismo esta variação precisa ser de no mínimo 1% em uma população.

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