A Campanha “Março Amarelo” é abordada de forma mundial e seu objetivo é alertar a respeito da endometriose.

O endométrio é um tecido que reveste o útero internamente, e passa por alterações sob os efeitos dos hormônios reprodutivos femininos, acompanhando o ciclo menstrual. A cada ciclo, o tecido do endométrio cresce e, com a menstruação, este tecido desprende do útero e sai do corpo. Com a fecundação (início da gravidez), o endométrio participa da fixação do feto e sua nutrição inicial.

A endometriose é uma doença ginecológica dependente do hormônio estrogênio, que ocorre quando há tecido endometrial fora do útero, em lesões, contendo glândulas endometriais e estroma.

A estimativa é que cerca de 176 milhões de mulheres, em todo o mundo, são afetadas pela enfermidade, sendo mais de 6 milhões somente no Brasil. Ocorre entre 5 a 10% das mulheres em idade reprodutiva, aumentando para 35 a 50% das mulheres que sentem dor pélvica e apresentam subfertilidade.

Apesar de ser uma doença comum, ainda é pouco conhecida e costuma demorar a ser detectada, podendo levar alguns anos até o diagnóstico definitivo, após o aparecimento dos primeiros sinais. A endometriose pode ser assintomática ou associada a dor pélvica intensa e dificuldades para engravidar. 

É uma doença complexa influenciada por múltiplos fatores genéticos e ambientais. A contribuição da variação genética para o risco de endometriose está bem estabelecida a partir de amostras clínicas e populacionais, tendo sido estimada em 51%, com base em um robusto estudo com gêmeos.

Estudos de metabolômica identificaram que os lipídios (gorduras) e os componentes associados à lipídios são alterados na endometriose, como os fosfolipídios, eicosanóides, ácidos graxos, glicosilceramidas de cadeia muito longa, hormônios esteróides, colesterol, entre diversos outros.

Mulheres afetadas por endometriose apresentam inflamação aumentada, níveis elevados de citocinas inflamatórias, como IL-17, IL-6 e TNF-α, são encontrados no líquido peritoneal (barriga), e o fator nuclear-kB (NF- kB) parece responsável pela ativação do processo inflamatório levando à superexpressão da p450 aromatase no endométrio. Isso, por sua vez, aumenta a produção local de estrogênios, alterando a receptividade endometrial.

A inflamação e o estresse oxidativo atuam em conjunto. Em detalhes, a inflamação promove o estresse oxidativo por meio do aumento da fosforilação de NF-kB-p65, o consequente aumento da expressão da família redox de NADPH oxidases (NOX) e a produção de superóxido (O2), que é posteriormente convertido em peróxido de hidrogênio (H2O2), da superóxido dismutase (SOD). As espécies reativas de oxigênio (ex: O2 e H2O2) movem-se livremente e ativam a fosforilação NF-kB-p65, aumentando assim a expressão de citocinas pró-inflamatórias, incluindo TNFα e IL-6, espalhando a inflamação.

Evidências crescentes sugerem que muitos nutrientes dos alimentos e compostos bioativos, como fitoquímicos, modulam a inflamação aguda e a longo prazo. 

Dentre os nutrientes com propriedades inflamatórias, os ácidos graxos poliinsaturados (PUFAs) são, provavelmente, os mais importantes. Eles exercem função estrutural, são como blocos de construção fundamental para todas as células, e sua organização é essencial para regular as funções celulares. Estes ácidos graxos, que constituem a célula, são utilizados para diversos processos importantes no interior das células, como regular as vias de sinalização antioxidante e modular os processos inflamatórios.

Estudos de metabolômica identificaram que os lipídios e os componentes associados à lipídios estão alterados na endometriose, como eicosanóides, ácidos graxos, componentes fosfolipídicos, triglicerídeos, hormônios esteróides, colesterol e outros. Portanto, os lipídios estão envolvidos na endometriose de forma importante.

Os ácidos graxos ômega-3 e ômega-6 são os principais PUFAs, e são críticos na regulação das respostas inflamatórias e imunes porque podem se comportar de forma a promover ou a reduzir a inflamação. 

Os ácidos graxos ômega-6 e seus derivados (ex: ácido araquidônico – AA) vão formar eicosanóides pró-inflamatórios, enquanto os ácidos graxos ômega-3 e seus derivados (ex: ácido linolênico, EPA e DHA) vão formar eicosaóides antiinflamatórios, como pode ser visto na Figura 1. Além destes, vários mediadores lipídicos são formados a partir destes PUFAs essenciais e estão envolvidos na resolução da inflamação. 

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Figura 1. Visão geral simplificada da biossíntese de AA, EPA e DHA a partir de PUFAs precursores e o metabolismo desses PUFAs por ciclooxigenases (COXs) e 5-lipoxigenase (5-LOX) em eicosanóides. PG: prostaglandina; TX: tromboxano; LK e leucotrieno. No centro

Na dieta ocidental há um consumo maior de alimentos fontes de ácidos graxos ômega-6 do que de ômega-3, principalmente pelo consumo de frituras, alimentos gordurosos e adição de óleos, gerando uma relação de desequilíbrio, resultando em processos mais inflamatórios. As principais fontes alimentares de óleos ômega-6 são os óleos vegetais, como soja, milho e girassol, que são mais utilizados, de forma geral, pela população. Já as fontes de ômega-3 são linhaça, chia e peixes gordurosos de águas frias e profundas. Portanto, estes últimos representam uma abordagem terapêutica para endometriose e outras questões relacionadas.

Ainda existem as fontes alimentares de gorduras trans, presente nos produtos industrializados (margarinas, biscoitos, produtos de panificação, frituras), que estão associadas à inflamação e à endometriose, além de outras condições de doença.

Não apenas o desequilíbrio no consumo de alimentos fontes de ômega-3/ômega-6, mas também algumas variantes genéticas importantes para a regulação inflamatória estão associadas. É o caso do polimorfismo para o gene FADS1 (rs174547), pois quem possui polimorfismo desse gene apresenta maior propensão para um estado mais inflamatório. Este polimorfismo está relacionado a redução da atividade da enzima (Δ5-dessaturade FADS1) que é responsável pela inserção de ligações duplas na posição delta-5 na cadeia dos ácidos graxos, gerando um melhoramento na molécula (ver Figura 1). 

Os nutrientes não devem ser considerados uma mera fonte de energia. Eles também contribuem para a regulação da expressão gênica, diretamente ou por meio de alterações epigenéticas reversíveis e hereditárias. 

O acompanhamento nutricional para adequação alimentar, além de outros nutrientes e compostos bioativos são essenciais para o tratamento da endometriose. Faça acompanhamento regular com seu médico ginecologista e cuide da sua nutrição.

Através do BioDiet – MAP da Biogenetika você pode conhecer o seu DNA e descobrir se possui o polimorfismo no gene FADS1. Desta forma pode agir de forma assertiva em favor da sua saúde.

REFERÊNCIAS

https://www.cremerj.org.br/informes/exibe/5289

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