No mês de março três campanhas de prevenção circulam juntas: a campanha sobre endometriose e as sobre câncer colorretal e câncer de colo de útero. Nesta postagem abordaremos os aspectos sobre a prevenção do câncer colorretal (CCR).

O Instituto Nacional de Câncer (INCA) calculou que, apenas em 2020, houve 20.470 novos casos de CCR em mulheres e 20.520 em homens.

O CCR é um dos cânceres mais comuns e uma das principais causas de mortalidade relacionada ao câncer em países economicamente desenvolvidos. As diferenças geográficas na incidência de CCR entre os países e os estudos de migração estabeleceram a importância do estilo de vida e da dieta como principais determinantes do risco de CCR.

Alguns dos sintomas que podem indicar a existência do CCR são a perda de peso sem motivo aparente, anemia, constipação, diarreia e sangue nas fezes, e precisam ser investigados. Alguns fatores de risco apontados para o CCR são obesidade, sedentarismo, tabagismo, alcoolismo, dieta e consumo de alimentos processados. 

Mudar o tipo dieta consumida oferece a perspectiva de impactar significativamente na incidência da doença. A gordura dietética tem sido amplamente implicada como um fator de risco para o câncer, e metanálises de estudos epidemiológicos tendem a associar o risco de CRC com um maior consumo de carne vermelha e processada. 

A associação entre a ingestão de gordura e o risco de câncer, no entanto, provavelmente depende não apenas da quantidade de consumo, mas também do tipo específico de ácido graxo (AG). Os estudos em modelos animais e estudos ecológicos tendem a implicar gordura animal, ácido graxo saturado (AGS) e certos ácidos graxos poliinsaturados ômega-6 (PUFAs w-6) com um risco aumentado e ingestão de ácido graxo poliinsaturado ômega-3 (PUFA w-3) com risco reduzido.

Utilizando dados genéticos de estudos populacionais de indivíduos com CCR e indivíduos saudáveis, com ancestralidade européia, foi possível relacionar que o perfil inflamatório causado pelo consumo de AGS esteárico e da produção de PUFA w-6 ácido araquidônico (AA) está relacionado com o aumento de risco para CCR associado ao gene FADS1 (rs174547). Por outro lado, o consumo de PUFA w-6 ácido linoleico, PUFAs w-3 e ácido oleico (MUFA w-9) se associaram à redução do risco de CCR. 

O gene FADS1 codifica uma enzima chamada Delta 5-dessaturase (D5D) que tem a responsabilidade de sintetizar PUFAs w-6 e w-3 mais complexos a partir de precursores que vem da alimentação. Os PUFAs não são produzidos no organismo humano, por isso precisam ser consumidos na dieta. Eles têm características químicas que fazem as membranas das células ficarem mais permeáveis, o que é interessante para a saúde. O excesso de gordura saturada (AGS) deixa as células rígidas e está associada a maior incidência de cânceres.

A baixa atividade da enzima D5D foi identificada como potencial biomarcador para diversas doenças metabólicas e para o câncer. Já uma atividade mais alta da enzima se relaciona à proteção contra doenças metabólicas e hipertensão, menores níveis de inflamação e menor peso corporal, sendo que uma dieta rica em gorduras pode reduzir a atividade da D5D.

Dado o papel fundamental da inflamação no câncer, o D5D pode estar envolvido na carcinogênese por meio da mediação do metabolismo dos PUFAs no microambiente tumoral. Pacientes com baixa expressão de FADS1 parecem ter menor sobrevida global e menor sobrevida livre de doenças. 

Por outro lado, em um estudo de associação genômica ampla (GWAS) para CCR, em população do leste asiático demonstrou que a expressão aumentada de FADS1 em tecidos tumorais de cólon é maior do que nos tecidos normais, indicando uma relação do gene já em tecidos cancerosos. Uma possível explicação para estes achados é que a função da D5D pode variar em diferentes órgãos e tecidos e nos diferentes tipos de cânceres (doença ativa).

Uma das relações da D5D com o desenvolvimento e crescimento de cânceres é através da formação de AA através dos PUFAs w-6, pois é transformado em prostaglandina E2 (PGE2), que está envolvida no desenvolvimento do tumor. A PGE2 contribui para a formação do ambiente de inflamação ao redor do tumor, resultando em proliferação, invasão e inibição da morte da célula cancerosa, levando a metástase do câncer. 

Portanto, prevenir a inflamação de forma ampla é um fator de proteção importante para evitar quadros de doenças crônicas.  A análise genética do gene FADS1, através do BioDiet – MAP da Biogenetika, revela se há tendência a um quadro mais inflamatório ou não, e este conhecimento permite a modulação da resposta inflamatória pelo uso de componentes antioxidantes vindos da dieta e suplementos adequados.

REFERÊNCIAS

https://www.cremerj.org.br/informes/exibe/5289

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