Ao longo dos séculos XIX e XX, ocorreu a grande descoberta e a disseminação da importância dos nutrientes para a saúde humana. O papel das vitaminas e minerais foi visto e compreendido, principalmente, quando alguns sintomas e doenças surgiram pela deficiência grave de alguns nutrientes, como foi o caso da cegueira noturna, para a vitamina A, do escorbuto para a vitamina C e da anemia para o ferro. 

Mas, não apenas na insuficiência ou no excesso extremo os nutrientes influenciam o funcionamento adequado do corpo. Também nas pequenas alterações de quantidade adequada de nutrientes pode haver consequências importantes para o desenvolvimento e manutenção da saúde. Os nutrientes e compostos bioativos podem modular diversos processos biológicos, inclusive influenciando a atividade dos nossos genes. 

Sim! Os nutrientes e compostos bioativos influenciam a expressão gênica. Esta atividade pode ser direta ou indireta. O nutriente pode agir diretamente com os mecanismos regulatórios no material genético, como ligante de receptores nucleares ou de fatores de transcrição da maquinaria gênica alterando diretamente a taxa de transcrição do gene alvo. Alguns nutrientes que agem de forma direta são o ácido retinóico (derivado da vitamina A de origem animal), calcitriol (forma ativa da vitamina D), ácidos graxos de cadeia curta e longa, esteróis e zinco. Os receptores nucleares estão envolvidos na regulação de diversos processos do organismo, como a reprodução, desenvolvimento do embrião, metabolismo, inflamação, morte celular, dentre outros.

No mecanismo indireto de controle de expressão gênica, o nutriente ou composto bioativo não se desloca diretamente para o núcleo celular, mas ativa uma cascata de sinalização que resulta no encaminhamento de um fator de transcrição específico que fica no citoplasma da célula, para dentro no núcleo. Alguns compostos bioativos irão influenciar a expressão gênica após o processo de transcrição do gene, não interagindo na resposta inicial, mas após a produção do conteúdo gênico. Como exemplo, temos o composto bioativo resveratrol (presente em alimentos roxos) que age influenciando na tradução do material genético em proteínas nos ribossomos por meio de bloqueio importante do processo inflamatório, na cadeia do NF-kB-IkB. Outros compostos bioativos que agem desta mesma forma são a capsaicina da pimenta, a genisteína da soja, as catequinas do chá verde, o gingerol do gengibre e a curcumina do açafrão da terra. Desta forma estes compostos bioativos reduzem a inflamação corporal, reduzindo as dores e a inflamação crônica (ver post Inflamação crônica e os alimentos).

Os efeitos das interações entre genes e nutrientes ou compostos bioativos podem trazer benefícios ou malefícios, resultando em proteção ou no aumento de risco para desenvolvimento de doenças crônicas.

Podemos pensar em uma doença crônica de grande importância, que é a obesidade, caracterizada por processo inflamatório crônico de baixa intensidade. Diversos compostos bioativos modulam a inflamação na obesidade, como o ácido cafeico (da erva-mate), o tirosol (do azeite de oliva), a quercetina (frutas e hortaliças), licopeno (tomate, melancia e goiaba). Estes bioativos reduzem a expressão gênica da ciclo-oxigenase (COX) e da ácido nítrico sintase induzível (iNOS) por atuarem na redução da translocação do fator nuclear NF-kB para o núcleo celular, reduzindo as citocinas inflamatórias.

Desta forma, vimos que alguns nutrientes são essenciais para a modulação da expressão gênica de forma geral, como as vitaminas A e D, o Zinco e os ácidos graxos (gorduras). É recomendado que os ácidos graxos sejam consumidos de acordo com seu perfil genético. No teste BioDiet da Biogenetika você descobre o melhor perfil de ácido graxo para sua saúde.

 Além destes nutrientes, os compostos bioativos presentes em alimentos, ervas e condimentos, chás são potentes moduladores genômicos. Portanto, quanto mais colorida, temperada e variada for a alimentação, melhor será sua saúde.

REFERÊNCIAS
COMINETTI, C.; ROGERO, M.M.; HORST, M.A. Fundamentos da Nutrigenômica. Genômica Nutricional: dos fundamentos à nutrição molecular. Barueri, SP: Manole, 2017.