Em função da doença COVID-19, muito tem se falado sobre a importância e as muitas formas de se aumentar a imunidade, visando diminuir o risco de infecção viral. Mas você sabe de que forma nosso sistema imune nos defende? E já se perguntou se a microbiota tem alguma relação com a função imunológica? Pois bem, esses são alguns pontos que vamos pontuar aqui.

Como o nosso corpo nos protege?

Para nos proteger, nosso corpo possui diversas barreiras imunológicas para que não sejamos infectados por agentes danosos, como vírus e bactérias. A primeira camada de defesa é a pele, órgão que constitui uma barreira física contra e entrada de moléculas e corpos estranhos. A segunda linha de defesa é o muco que recobre as vias respiratórias e do trato digestivo. O muco, além de constituir uma barreira física, também possui fatores antimicrobianos, como os anticorpos, que impedem a entrada de agentes infecciosos no nosso corpo. Temos também defesas químicas, compostas por enzimas antimicrobianas, presentes nas lagrimas ou o ácido que produzimos no estômago. Outra importante linha de defesa são as células imunológicas, que estimuladas em diversos órgãos do nosso corpo, incluindo a medula óssea, o timo, o baço e os gânglios linfáticos. 

Células imunológicas e COVID-19

As células de defesa do sistema imune são a nossa principal fonte de proteção contra infecções virais, como, por exemplo, o vírus 2019­nCoV, responsável pelo desenvolvimento da COVID-19. Isso acontece porque quando somos infectados, os vírus penetram em nossas células para que possam se replicar.

Algumas células do nosso sistema imune reconhecem as células que estão infectadas por vírus, promovendo assim, a morte das mesmas, e a eliminação do vírus. Alguns vírus, no entanto, possuem a habilidade de conseguir “enganar” essas células de defesa, e por isso, podem causar infecções graves e duradouras.

Nutrientes que influenciam as células imunológicas

Assim, quando pensamos em imunidade, principalmente contra infecções virais, precisamos pensar que um dos principais fatores de proteção é manter um elevado número de células de defesa, principalmente daquelas que reconhecem células infectadas por vírus. Além disso, é necessário dar suporte para que essas células possam trabalhar de forma eficiente. Dentre os fatores principais para isso, estão evitar restrições calóricas na dieta, aumentar consumo de alimentos ricos em vitamina C, consumir alimentos ricos em nutrientes antioxidantes e antioxidantes (frutas e vegetais) e manter-se bem hidratado, por exemplo. Outro fator que é fundamental para a ativação da resposta antiviral é a microbiota.

Microbiota e sistema imune

Quando falamos de microbiota, estamos nos referindo a um grupo de pequenos organismos que vive em uma determinada região do nosso corpo. Temos uma microbiota característica da pele, uma da boca, uma do nariz, uma do intestino e assim por diante.

Dentre todos os tipos de microbiota que possuímos, a do intestino é a que mais vem sendo estudada nos últimos anos, visto seu importante papel na regulação de diversas funções do nosso corpo, dentre as quais, o funcionamento do sistema imune. Ainda não são muitos os estudos que investigam a relação da microbiota com infecções virais, no entanto, vamos aqui fazer um apanhado geral do que sabemos até agora.

Sabe-se que a microbiota intestinal é composta por ampla variedade de bactérias, vírus, fungos e protozoários. E que, quando em desequilíbrio, esses micro-organismos podem nos proteger ou favorecer infecções por vírus patogênicos (causadores de doenças).

Microbiota e infecções virais

Um dos fatores primordiais associados ao efeito antiviral da microbiota, quando em estado de equilíbrio, é a sua capacidade de estimular a produção de muco, o qual além de ser uma barreira física, também possui substancias antivirais e antimicrobianas (como anticorpos) constituindo assim, uma importante camada de proteção  contra a infecção de vírus e outros agentes infecciosos.  

Sabe-se também que alguns gêneros de Lactobacillus encontram-se diminuídos em infecções virais, o que pode favorecer o desenvolvimento dessas doenças. No entanto, a presença de vitamina A impede a diminuição na taxa desses Lactobacillus, impedindo que a infecção viral se instale.

Outro tipo de bactéria, chamada Bifidobacterium breve associadas ao consumo de fibras prébioticas (galacto-oligossacarideo e frutooligossacarideo) impede infecções virais, bem como, de aumenta a produção de moléculas e células com função de reconhecimento e eliminação de células que estejam infectadas por vírus.

Já a presença de Lactobacillus paracasei e Lactobacillus plantarum em proporções adequadas no intestino, aumenta a produção de substâncias pró-inflamatórias  e de células imunes no pulmão durante as infecções de gripe (causadas pelo vírus influenza), diminuindo a taxa de infecção viral e o tempo total de infecção, ou seja, acelerando a recuperação da doença.  

Por outro lado, a presença de bactérias, dentre as quais Enterobacter faecium, Klebsiella spp., Bacillus spp., Bacteroides thetaiotaomicron, L. plantarum, and L. gasseri em concentrações elevadas no intestino está associado ao aumento de infecções virais, por facilitarem a entrada dos vírus nas células e também por aumentarem a taxa de replicação viral, potencializando assim as infecções virais.

Assim, percebe-se que a microbiota também constitui uma linha de defesa antiviral importante, pois é capaz de inibir ou diminuir a proliferação ou o crescimento de micro-organismos patogênicos (capazes de provocar doenças) prevenindo assim o desenvolvimento de doenças. Ou, quando em desequilíbrio, favorecer infecções virais e o desenvolvimento de doenças como a gripe.

Dessa forma, percebe-se que a composição da microbiota intestinal é extremamente relevante no controle das infecções virais. É possível conhecer a composição da nossa microbiota por meio da análise do microbioma, a qual indica precisamente qual a composição de bactérias, vírus, fungos e protozoarios presentes no nosso intestino. A partir dessas informações, estratégias especificas relacionadas a alimentação e a suplementação podem ser adotadas visando modular a composição da microbiota, e assim, fortalecer o sistema imune, prevenindo o desenvolvimento de doenças, dentre as quais a infecção COVID-19.