Muito tem se falado ultimamente do “eixo intestino cérebro” como uma via de mão dupla, na qual o que acontece no intestino influencia diretamente no sistema nervoso central (SNC) e vice-versa. Pesquisas demonstram cada vez mais que a existência de algum nível de inflamação intestinal ou de distúrbio no funcionamento intestinal pode piorar sintomas de doenças do SNC. Ao mesmo tempo, fatores emocionais e patologias neuropsiquiátricas podem agravar problemas intestinais.

Depressão e constipação

Um exemplo importante é a constipação intestinal crônica, cada vez mais frequente e que se caracteriza por dificuldades para evacuar, seja por passar vários dias sem defecar ou por sensação de evacuação incompleta e/ou fezes duras e difíceis de eliminar.

O termo “enfezado”, que é utilizado para definir pessoas irritadas ou enraivecidas, parece não ser por acaso quando pensamos nesse eixo intestino cérebro.

Um estudo recente publicado em março de 2021 no Journal of Clinical Biochemestry and Nutrition por um grupo japonês mostra uma possível relação entre o gênero de bactérias Alistipes e a constipação. Esse grupo de bactérias já era conhecido pela sua relação direta com depressão.

Os autores identificaram que a alteração que os Alistipes causam no metabolismo do aminoácido L-triptofano no intestino poderia explicar a sua relação com a constipação também.

O L-triptofano é convertido no nosso organismo a 5-hidroxi-triptofano, sendo este o precursor da serotonina (neurotransmissor mais importantemente relacionado à depressão quando deficiente). O intestino, assim como o cérebro, também precisa de serotonina para estimular a motilidade intestinal, auxiliando assim na evacuação diária. A diminuição na produção desse neurotransmissor prejudica a motilidade e pode aumentar o risco de constipação. 

A maior parte das bactérias do gênero Alistipes podem metabolizar o triptofano gerando outra substância, conhecida como quinurenina, diminuindo então a sua disponibilidade para a via da serotonina, explicando assim a relação observada entre essas bactérias e a depressão (por diminuição da serotonina) e constipação (menor motilidade intestinal).

Os autores da pesquisa sinalizam que a via de transformação do triptofano em quirunenina se apresenta como um candidato para futuras investigações da fisiopatologia da constipação crônica.

A importância da análise do Microbioma

A análise do microbioma mostra qual a abundância dessas e de outras bactérias intestinais e, com isso, pode colaborar na prevenção e no tratamento de doenças neuropsiquiátricas e gastrointestinais. Na Biogenetika contamos com um grande banco de dados que auxilia a direcionar o tratamento de forma individualizada, indicando quais alimentos, suplementos e probióticos específicos podem ser utilizados e deveriam ser evitados para promover mudanças positivas na microbiota intestinal, melhorando sintomas e qualidade de vida das pessoas.