Está bem reconhecido e validado que os padrões alimentares são moduladores da microbiota intestinal. Tanto as mudanças estruturais da alimentação de longa duração, quanto as de curto prazo interferem na composição das bactérias intestinais.

As condutas dietéticas direcionadas ao microbioma intestinal, tanto para melhorar, introduzir ou eliminar funcionalidades, são aliados poderosos, da medicina de precisão.

Estas abordagens são individualizadas. É necessário conhecer, através da metagenômica, o microbioma intestinal e, a partir deste conhecimento, mudar comportamentos e iniciar novas abordagens individualizadas, que podem ser alimentares ou em forma de suplementos e uso de probióticos.

Entretanto, recomendações mais amplas que possam alavancar as interações entre hospedeiro-microbiota, têm sido alvo de pesquisas científicas.

Neste sentido, duas abordagens vêm sendo discutidas e confrontadas quanto a sua eficácia e em que interferem na microbiota intestinal, o uso das fibras e o uso de alimentos já fermentados.

Fibras Alimentares

As fibras alimentares são definidas como os carboidratos não digeridos, nem absorvidos no intestino delgado, e que tenham um tamanho de pelo menos 3 unidades (poliméricas).

São consideradas fibras alimentares a celulose, hemicelulose, pectinas, amido resistente e oligossacarídeos não digeríveis (inulina, oligofrutose, ligninas, entre outros). Estes podem ser usados pela microbiota que produz os ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs).

Em um estudo controlado recente feito por Wastyk et al. (2021), os indivíduos adultos que consumiram fibras em grande quantidade (45g/dia) apresentaram maior quantidade de bactérias intestinais, mas não aumentaram a variedade dos tipos de bactérias presentes.

Quando observados os marcadores de inflamação, viu-se que não foi alterado o padrão, apenas aumentado o efeito. Sendo assim, os que apresentavam algum grau de inflamação, inflamaram mais. Já aqueles que apresentaram reduzidos níveis inflamatórios, foram ainda mais reduzidos. Portanto, a fibra não alterou a condição inflamatória.

Quando analisados os tipos de bactérias presentes nestes indivíduos, verificaram aumento de Akkermansia muciniphila nos que apresentaram mais inflamação e redução nos que apresentaram redução inflamatória.

Alimentos fermentados

Os alimentos fermentados fazem parte da alimentação humana desde os tempos antigos, como contam os registros da fermentação do arroz, mel e frutas na China, desde 7.000 aC. Sua principal aplicação foi feita para conservação dos alimentos, pois não havia tanta abundância.

Os alimentos tradicionalmente fermentados são as frutas, sementes, tubérculos, além de carnes, leite, peixes e ovos.

A fermentação bacteriana produz álcoois, CO2 e ácidos orgânicos a partir dos açúcares alimentares, o que aumenta a acidez e reduz a deterioração, prolongando a vida útil dos alimentos.

A associação entre alimentos fermentados e a saúde vem desde 1900, com a observação de que o leite azedo prolongava a vida dos camponeses búlgaros.

Os benefícios dos alimentos fermentados incluem: a capacidade de melhorar o valor nutricional dos alimentos, produzindo compostos bioativos pelo processo fermentativo; fornecer nutrientes para o crescimento de microrganismos intestinais e; podem transferir os microrganismos dos alimentos fermentados, em partes, para o microbioma intestinal que são capazes de inibir/competir com os que já estão lá.

No estudo de Wastyk (2021), as pessoas que consumiram grande quantidade de alimentos fermentados obtiveram aumenta na variedade (diversidade) de microorganismos diferentes no intestino, mas não na quantidade. Isso revela que, neste estudo, com o uso de fermentados, a microbiota se tornou mais receptiva à novas bactérias, estas podem ter vindo dos alimentos, do ambiente ou ainda do estímulo a expansão das bactérias já presentes, mas antes indetectáveis.

Quando analisados os marcadores inflamatórios, verificou-se redução do quadro geral de inflamação de todos os que consumiram alimentos fermentados, independendo do padrão inflamatório inicial.

Portanto, dependendo da microbiota intestinal inicial já presente no intestino, o aumento no consumo de fibras ou no consumo de alimentos já fermentados, pode ser mais saudável e indicado. Conhecer a sua microbiota através dos testes de microbioma da Biogenetika, possibilita estratégias assertivas.

REFERÊNCIAS

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