As doenças cardiovasculares são definidas pela OMS como as que são causadas por distúrbios do coração e dos vasos sanguíneos, e incluem doença cardíaca coronária (ataques cardíacos), doença cerebrovascular (derrame), hipertensão (pressão arterial elevada), doença arterial periférica, doença reumática cardíaca, cardiopatias congênitas e insuficiência cardíaca. São a primeira causa de mortalidade e morbidade no século 21 e, parece que, a situação não se alterará nas próximas décadas.

Existem alguns fatores de risco não modificáveis, como sexo, idade, etnia e história familiar de doença cardiovascular. Os fatores de risco modificáveis são peso corporal, padrão alimentar, atividade física, tabagismo, consumo de álcool e exposição ao estresse. Fatores considerados parcialmente modificáveis são hipertensão, hiperlipidemia, diabetes e obesidade.

Um estilo de vida saudável pode prevenir o desenvolvimento destas doenças e dentre os fatores relacionados, a alimentação e a nutrição são fundamentais. Os erros alimentares mais comuns incluem: irregularidade no consumo de refeições, comer doces entre as refeições, baixo consumo de fibras alimentares, de gorduras insaturadas, de sementes leguminosas e o alto consumo de carnes e derivados.

Do ponto de vista nutricional, para a proteção cardiovascular, foram emitidas recomendações dietéticas pelos governos e outras agências de saúde em todo o mundo. Elas foram baseadas em estudos epidemiológicos e clínicos que mostravam que alguns alimentos ou nutrientes são benéficos ou ruins, em média, para a saúde. Entretanto, foi-se observando que nem todos os indivíduos respondem da mesma maneira para estas intervenções e recomendações, e os resultados, por vezes, se mostravam mais eficazes a determinados grupos de indivíduos e sem benefícios para outros.

Neste sentido as ciências ômicas, dentre elas a nutrigenômica e nutrigenética, exercem papel essencial, pois esclarecem alguns dos mecanismos que implicam nas diferenças entre os indivíduos. As doenças cardiovasculares, como outras doenças crônicas, são complexas e poligênicas, com a influência de diversos genes que possuem efeito pequeno. Entender estas causas e aproveitar a variabilidade interindividual, personalizando as recomendações nutricionais ao perfil de cada indivíduo, pode aumentar a probabilidade de prevenir e reverter com sucesso as doenças crônicas. Ainda, os indivíduos que recebem aconselhamento dietético personalizado tendem a aderir mais às recomendações e têm maior motivação para mudar hábitos. 

 Foram identificados diversos polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) como condutores de doenças cardiometabólicas que se relacionam com o padrão alimentar. No estudo PREDIMED, indivíduos com alto risco cardiovascular foram acompanhados por 8 anos utilizando dieta mediterrânea (com aumento de consumo de gorduras monoinsaturadas) ou dieta controle com recomendação de redução de gorduras. Encontraram associação entre o gene APOA2 (2265T>C) e o consumo de gordura saturada na determinação do IMC. Assim como os alelos variantes para os genes MC4R (rs17782313) e FTO (rs9939609) foram associados ao IMC, e uma adesão maior à dieta mediterrânea reduziu o IMC nestes indivíduos. 

Também encontraram associação com o gene TCF7L2 (rs7903146) e o risco para desenvolvimento de diabetes, lipídios plasmáticos e doenças cardiovasculares. A dieta mediterrânea reduziu os efeitos adversos do polimorfismo nas questões cardiovasculares e incidência de AVC. Portanto, neste importante estudo, a adesão à dieta mediterrânea controlou parte do risco cardiovascular.

Os genes FADS1 e FADS2 estão envolvidos no metabolismo de ácidos graxos poliinsaturados (PUFAs). Os estudos têm apontado para a relação destes genes com o processo inflamatório de baixo grau, que está relacionado com a obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e doença hepática gordurosa não alcoólica. Os indivíduos portadores do alelo de risco apresentaram maior benefício dos parâmetros de peso e controle de lipídios plasmáticos quando obtiveram pontuações mais altas nos índices de qualidade de alimentação HEI-2015 e DQI-I.

Algumas conclusões importantes foram tiradas dos grandes estudos de intervenção relacionados às doenças cardiovasculares como, a maior adesão (de forma sustentada e contínua) às recomendações saudáveis, para aqueles indivíduos que já possuem um padrão alimentar saudável, pode trazer benefícios para a saúde como a redução nas taxas de eventos cardiovasculares. Desta forma, para os indivíduos que possuem maior risco cardiovascular, e para os profissionais da saúde, é fundamental a clareza de que os recursos que aumentam a adesão aos cuidados e ao tratamento podem fazer toda a diferença nos desfechos. A resposta às dietas é explicada pela soma de múltiplos SNPs, cada um contribuindo modestamente para o resultado de saúde ou doença (fenótipo). 

Desta forma, utilizar a ciência e a tecnologia para o acompanhamento dos indivíduos com maior risco cardiovascular pode trazer benefícios para a assertividade das recomendações, assim como para melhorar a adesão ao tratamento. No teste BioDiet Plus da Biogenetika estes marcadores estão disponíveis, com diversos outros para busca da saúde integral.

REFERÊNCIAS

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