Alguns nutrientes específicos têm se mostrado protetores para as questões cardiovasculares. Um destes nutrientes é a coenzima Q10 (CoQ10). Sua forma oxidada, a ubiquinona, participa ativamente da produção de energia pelas mitocôndrias, transportando elétrons entre os complexos proteicos na cadeia respiratória. Já sua forma reduzida, o ubiquinol, absorve o oxigênio reduzindo o estresse oxidativo. Essas propriedades são fundamentais para as células cardíacas que utilizam grande quantidade de energia e possuem maiores quantidades de mitocôndrias. A CoQ10 é produzida pelo organismo, mas com o avançar da idade, e com o uso de medicamentos para reduzir colesterol as demandas de CoQ10 aumentam e podem ser fornecidas de forma alimentar. São fontes de CoQ10 os peixes gordurosos, produtos de soja, nozes, vegetais verdes escuros.

Juntamente com a CoQ10, as vitaminas do complexo B, como B2, B6, B9 e B12 são essenciais para a saúde mitocondrial e cardiovascular. Confira nossa publicação sobre a Hipertensão e o polimorfismo do gene MTHFR.

Os ácidos graxos insaturados são essenciais para suporte do sistema cardiovascular, sendo que os ácidos graxos ômega-3 têm propriedades cardioprotetoras específicas. Por sua ação na redução de interleucinas pró-inflamatórias, melhoram o funcionamento dos vasos sanguíneos, reduzindo a agregação plaquetária e a formação de coágulos. Reduzem os níveis de triglicerídeos plasmáticos e aumentam os níveis de HDL, além de apresentar efeito hipotensor. São abundantes em peixes marinhos, principalmente nos gordurosos, como salmão, sardinha, além de em algas marinhas, sementes de chia e linhaça. A recomendação é de consumir no mínimo 2 vezes por semana.

Os fitoesteróis, como o sitosterol, presentes em plantas, possui ação antioxidante e de melhora no perfil lipídico. São abundantes em óleos vegetais, frutas, nozes e leguminosas.

A vitamina E fornece proteção cardiovascular, por atuar em vários estágios do processo trombótico. Atualmente é vista como uma molécula antioxidante, anti-inflamatória e bioativa, pois demonstrou neutralizar a hiperlipidemia, aterosclerose e disfunção endotelial, reduzindo a infiltração de células espumosas e peroxidação lipídica. Ainda reduz a agregação plaquetária, prevenindo trombose. O uso isolado de vitamina E ainda é considerado contraditório, portanto, a recomendação é o uso de fontes alimentares, como gérmen de trigo, óleos vegetais, espinafre, brócolis, oleaginosas e sementes.

Os polifenóis, dentre eles as antocianinas, flavonóis e flavonóides, estão presentes em vegetais e frutas coloridos, e possuem efeito cardioprotetor. Suas atividades incluem redução na pressão arterial, melhora do perfil lipídico e regeneração do endotélio dos vasos sanguíneos. As frutas vermelhas, ricas em antocianinas e procianidinas, melhoram a função endotelial reduzindo o estresse oxidativo e a inflamação. O consumo de vinho tinto se relaciona com o aumento do HDL, conhecido como “bom colesterol”, mas não com os demais parâmetros de lipídios.

O café, devido seu alto teor de polifenóis, se mostrou protetor cardiovascular em um estudo de meta-análise com mais de 3 milhões de pessoas. Os polifenóis do chá verde, como as catequinas, são as principais substâncias bioativas que apresentam efeito protetor contra as doenças cardiovasculares e efeitos benéficos em eventos cardiovasculares e acidente vascular cerebral (AVC).

A soja, rica em isoflavonas, mostrou efeitos protetores em adultos com risco cardiometabólico regulando biomarcadores inflamatórios aumentando os sistemas antioxidantes e anti-inflamatórios endógenos.

Nozes e oleaginosas são ricos em fitoquímicos (proantocianidinas, flavonóides e ácidos fenólicos) e outros compostos bioativos solúveis em gorduras (tocóis, carotenóides, fitoesteróis e esfingolipídeos) que melhoram a saúde cardiovascular.

Por outro lado, alguns excessos alimentares podem levar ao prejuízo na saúde cardiovascular, como por exemplo o excesso de consumo de carboidratos refinados e carboidratos simples devido ao seu alto índice glicêmico e teor de açúcares simples. Este consumo desregulado aumenta o risco de diabetes e doenças cardiovasculares, além de contribuir para o sobrepeso e obesidade. Manter níveis normais de glicose sanguínea traz benefícios que reduzem as chances de síndrome metabólica. Portanto, aumentar o consumo de carboidratos complexos, ricos em fibras e com baixo índice glicêmico é essencial para saúde cardiovascular. 

Fibras alimentares

As fibras alimentares são as substâncias vegetais, solúveis e insolúveis, cuja digestão só é possível pela ação das bactérias intestinais. Recomenda-se a ingestão de 30 a 40g de fibras ao dia para saúde geral e cardiovascular; as fontes naturais são os vegetais, frutas, cereais integrais e oleaginosas. O consumo regular previne hipertensão, reduz acúmulo de gordura visceral, melhora a sensibilidade à insulina e tem efeito benéfico nos níveis de colesterol LDL devido a redução de absorção das gorduras no intestino. Quanto maior a densidade de fibra na dieta, menor o risco de doença cardiovascular aterosclerótica, já a ingestão insuficiente de fibras se relaciona com a ocorrência de doença cardíaca coronária.

As fibras também provocam atraso no esvaziamento gástrico com prolongamento da sensação mecânica de saciedade, reduzindo o consumo de alimentos, evitando o excesso de peso corporal. No trato gastrointestinal, melhora a motilidade, é digerida por bactérias, favorecendo o desenvolvimento da microbiota e prevenindo a disbiose. Desta forma, pode influenciar a expressão gênica, melhorando o metabolismo dos ácidos graxos e reduzindo os níveis de leptina.

Portanto, para montar uma abordagem nutricional completa para proteção cardiovascular, os alimentos e suplementos que contenham esses nutrientes e compostos bioativos devem ser incluídos. Entretanto, abordagens considerando os nutrientes isolados fornecidos apenas através de suplementação podem não ser suficientes para garantir a totalidade dos benefícios, portanto ambos devem ser planejados e integrados.

Nas análises genéticas dos polimorfismos presentes em nossos paineis BioDiet Plus e BioNutrientes você pode conferir sua capacidade de metabolização para diversos destes nutrientes e proteger ainda melhor sua saúde cardiovascular. 

REFERÊNCIAS

Review

Dietary Therapy in Prevention of Cardiovascular Disease (CVD)—Tradition or Modernity? A Review of the Latest Approaches to Nutrition in CVD

Elz ̇bieta Szczepan ́ska 1, Agnieszka Białek-Dratwa 1,* , Barbara Janota 2 and Oskar Kowalski 1,3

https://doi.org/10.3390/ nu14132649