No mês de janeiro é realizado o Movimento Janeiro Branco, que tem o objetivo de conversar sobre a necessidade de autoconhecimento e respeito pelos sentimentos, emoções, questões de relacionamento e comportamentais. 

Neste ano de 2023, o tema do Janeiro Branco é “A vida pede equilíbrio”. Em um tempo em que urgências são apontadas como prioridade, é preciso entender como está o equilíbrio interno. Alguns desequilíbrios se mostram como um combinado de sintomas, como irritabilidade, ansiedade, angústia, desânimo, cansaço, diminuição ou incapacidade de sentir alegria e prazer, desinteresse, apatia, baixa-autoestima, sentimentos de medo, sensação de fracasso, dificuldade de concentração, esquecimento, perda ou aumento de apetite, insônia, diminuição do interesse sexual, dentre outros. 

Estes sintomas vêm sendo percebidos de forma mais comum nos consultórios médicos, e podem estar relacionados à depressão. Ela é um dos transtornos psiquiátricos mais comuns e que causa prejuízo para a vida diária.

A depressão é um distúrbio clinicamente heterogêneo que se acredita ser o resultado de uma interação de múltiplos genes com influências ambientais e componentes epigenéticos do desenvolvimento. Estudos epidemiológicos mostram que cerca de 40% a 50% do risco de depressão é genético.

Um dos importantes desequilíbrios nutricionais, que vem sendo estudado na depressão, é a deficiência de folato. A deficiência de folato pode aumentar o risco de diversos transtornos psiquiátricos, como a esquizofrenia, ansiedade, transtorno bipolar e depressão.

O folato desempenha um papel importantíssimo que é mediar a transferência de um carbono (grupo metil) para várias reações dentro das células. A enzima MTHFR tem a função de converter 5,10-metileno tetrahidrofolato em 5-metil tetrahidrofolato, doando o carbono para a síntese de metionina. Sendo assim ele auxilia na síntese, metilação, integridade e estabilidade do DNA

Uma mudança no gene da enzima MTHFR (metilenotetrahidrofolato redutase) leva a alteração na transferência do carbono. Uma destas alterações genéticas associadas é o polimorfismo C677T, que tem um efeito profundo na atividade da enzima, produzindo uma enzima com atividade reduzida. Uma das consequências desta redução é o aumento dos níveis de homocisteína no sangue. A homocisteína elevada tem sido implicada no acúmulo de amiloide, dano ao DNA, disfunção mitocondrial, desintegração nuclear e apoptose de neurônios. Estas alterações são um fator de risco para diversas doenças neuropsiquiátrica e neurodegenerativas, como também para a depressão. Altas concentrações de homocisteína são tóxicas para as células vasculares, ocasionando questões cardiovasculares.

A hipótese da homocisteína é que fatores genéticos e ambientais elevam os níveis de homocisteína, que causam doença vascular cerebral e/ou alterações de neurotransmissores, que causam depressão. 

Outro gene que vem sendo relacionado à depressão é o MC4R. Este gene é responsável pela expressão das melanocortinas, que são expressas no hipotálamo e têm um papel importante na regulação do apetite. Alterações (polimorfismos) no gene MC4R foram estudadas extensivamente e têm relação com o ganho de peso. Possuir a homozigose CC (rs17782313 C) foi associada a maior prazer alimentar e ao consumo de lanches doces. 

O gene MC4R também é conhecido por interagir com as vias da serotonina e dopamina, sugerindo assim um envolvimento dele na regulação do humor, podendo exercer um papel importante na suscetibilidade à depressão e anedonia (desinteresse por atividades que antes davam prazer). O alelo C (rs17782313) foi associado ao comer emocional, assim como ao aumento do humor deprimido. Um dos critérios diagnósticos para transtorno depressivo maior é uma mudança no comportamento alimentar, e os indivíduos que sofrem de depressão atípica ou transtorno afetivo sazonal frequentemente apresentam excessos alimentares.

Desta forma conhecer sua genética é fundamental para o planejamento de saúde, longevidade e qualidade de vida.

REFERÊNCIAS

YILMAZ, Z; DAVIS, C; LOXTON, N J; KAPLAN, A s; LEVITAN, R D; CARTER, J C; KENNEDY, J L. Association between MC4R rs17782313 polymorphism and overeating behaviors. International Journal Of Obesity, [S.L.], v. 39, n. 1, p. 114-120, 14 maio 2014. Springer Science and Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1038/ijo.2014.79.
RAI, V. Association of C677T polymorphism (rs1801133) in MTHFR gene with depression. Cellular And Molecular Biology, [S.L.], v. 63, n. 6, p. 60-67, 31 jul. 2017. CMB Association. http://dx.doi.org/10.14715/cmb/2017.63.6.13.