A personalidade de uma pessoa influencia na sua saúde, nas suas amizades, em como lida com o estresse, em qual profissão terá mais chances de obter sucesso e em como gosta de passar o tempo.

Nos humanos, a personalidade é 50% hereditária (ou seja, herdada de genes dos nossos pais) e 50% determinada por fatores ambientais, como o nosso estilo de vida.

O estilo de vida também influencia na composição da microbiota intestinal que, além de possuir um importante papel sobre a regulação de fatores fisiológicos do nosso corpo, como digestão, imunidade, metabolismo, também parece que influencia os traços de personalidade.   

O cérebro e a microbiota intestinal

O cérebro é o responsável pelos nossos comportamentos. É ele, portanto, que determina nossos pensamentos e a maneira como agimos.   

Sabe-se que há forte conexão entre a composição da microbiota intestinal e o funcionamento cerebral.  

Alterações na composição de bactérias intestinais estão relacionadas ao desenvolvimento de doenças do sistema nervoso central, como autismo, depressão, ansiedade, estresse, psicose, esquizofrenia e desordem bipolar, sociabilidade e humor negativo.

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Como a microbiota influencia o comportamento?

Um estudo publicado em março de 2020 intitulado “Gut microbiome composition and diversity are related to human personality traits” conduzido por pesquisadores da Universidade de Oxford (Reino Unido) investigou essa questão.

O estudo abrangeu pessoas residentes em 20 países diferentes da América do Norte, Europa, Austrália e Ásia. Além de amostras de fezes (para análise do microbioma), foram coletados também dados referentes as condições socioeconômicas, comportamentais, dietéticas, de saúde e estilo de vida dos participantes.

Segundo o estudo, pessoas com maiores níveis de sociabilidade (conjunto de características envolvendo extroversão, interação social e comunicação) apresentavam mais abundância de bactérias dos gêneros Akkermansia, Lactococcus e Oscillospira. Por outro lado, quanto maior a abundância de bactérias dos gêneros Desulfovibrio e Sutterella, menos sociáveis os indivíduos eram.  

Outro traço de personalidade analisado e que teve associação positiva com a composição da microbiota intestinal foram as tendências neuróticas (combinação de neuroticismo, anxiedade e níveis de estresse). Quanto maior a abundância dos gêneros Corynebacterium e Streptococcus, menos tendências neuróticas as pessoas apresentavam.

O que foi concluído?

Dessa forma, o estudo conclui que existe associação entre a composição da microbiota e os traços de personalidade que uma pessoa apresenta.

Isso nos faz refletir sobre qual o poder da modulação da microbiota intestinal sobre a forma como percebemos e reagimos aos estímulos que o mundo nos oferece e, quanto disso poderia ser mudado por mudanças nos nossos hábitos alimentares e de estilo de vida.