Importância da microbiota

A microbiota intestinal é uma vasta comunidade de bactérias, vírus e fungos que habitam nosso intestino.

Uma microbiota intestinal bastante diversificada é sem dúvida, importante para que tenhamos boa capacidade de absorver nutrientes, manter nossa homeostase metabólica e imunológica.

Por outro lado, uma microbiota em desequilíbrio (disbiose) está associada a maior chance de desenvolver condições patológicas diversas, como obesidade, diabetes e câncer.

Sexo e microbiota

O sexo é um dos fatores que influencia a nossa relação com a microbiota intestinal. Estudos mostram, por exemplo, que a microbiota é capaz de modular a produção de hormônios sexuais em homens e mulheres.

Esse fato corrobora com o conceito de que a disbiose intestinal pode influenciar negativamente a saúde do sistema reprodutor, levando ao desenvolvimento de patologias, como, por exemplo, a Síndrome do Ovário Policístico (SOP).

Características da Síndrome do Ovário Policístico

A SOP atinge 5-20% das mulheres em idade reprodutiva, sendo a desordem endócrina mais comum associada a infertilidade anovulatória no mundo.

Essa síndrome caracteriza-se por uma produção excessiva de andrógenos, disfunção ovulatória, aparecimento de cistos nos ovários e, desregulação hipotalâmica da produção hormonal.

Além de afetar a parte hormonal e reprodutiva, a SOP também esta fortemente associada a alterações metabólicas, sendo as principais resistência a insulina, sobrepeso/obesidade e doença cardiovascular.

A SOP é uma doença sem cura. Seu tratamento visa controle dos sintomas. Por isso, a busca por novas alternativas de tratamento da doença é importante.

Nesse sentido, alguns estudos publicados na literatura (links no final do texto) mostram que a composição da microbiota de mulheres com SOP é diferente daquelas sem a patologia.

Microbiota e Síndrome do Ovário Policístico

Uma das características mais marcantes da microbiota de mulheres com SOP, é a elevada abundância da Bacteroides vulgatus, uma bactéria simbiótica, anaeróbia gram-negativa que faz desconjugação de ácidos biliares provenientes do fígado, como o ácido glicodeoxicolico (GDCA) e o ácido tauroursodeoxicolico (TUDCA). Ela é normalmente encontrada no microbioma intestinal.

Um estudo publicado em 2019 ( https://www.nature.com/articles/s41591-019-0509-0 ) demonstrou que existe relação inversa entre a quantidade de Bacteroides vulgatus e os níveis de GDCA e TUDCA intestinais.

Além disso, a administração de Bacteroides vulgatus em camundongos fêmeas saudáveis foi o suficiente pra que elas desenvolvessem características idênticas as apresentadas na SOP. Isso demonstra que talvez a simples presença dessa bactéria em abundância possa ser suficiente para desenvolver a patologia.

Na tentativa de elucidar o mecanismo pelo qual essa bactéria poderia levar a SOP, os autores do artigo acima mencionado, analisaram o perfil de citocinas intestinais que são moduladas pelo metabolismo dos ácidos biliares.

Tanto em mulheres com SOP quanto nos camundongos que apresentavam a síndrome foram encontrados menores níveis intestinais de RNAm, bem como níveis séricos diminuídos de interleucina-22 (IL-22), a qual tem seus níveis regulados pela presença de ácidos biliares.

Além disso, a administração de IL-22 em camundongos com Bacteroides vulgatus (e com sintomas de SOP) foi suficiente para reverter os sintomas de SOP.

Conclusão

Dessa forma, o estudo evidencia como a composição da nossa microbiota intestinal pode influenciar na nossa saúde, predispondo ou não ao desenvolvimento de patologias, como a SOP.

Referências

Qi, X., Yun, C., Sun, L. et al. Gut microbiota–bile acid–interleukin-22 axis orchestrates polycystic ovary syndrome. Nat Med 25, 1225–1233 (2019). https://doi.org/10.1038/s41591-019-0509-0.

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