Este é um assunto muito presente no universo gestacional, mas que deveria fazer parte do dia a dia de homens e mulheres, em todas as fases da vida. Isso porque, ao contrário do que se imagina, o ácido fólico é uma substância necessária para todas as pessoas, não só para gestantes ou mulheres que buscam engravidar.

O que é ácido fólico?

Para começar, vamos explicar o que é o ácido fólico. Trata-se de uma vitamina do complexo B, também conhecida como folato ou vitamina B9, que está presente em diversos alimentos. Você o encontra nas folhas verdes escuras (principalmente espinafre, brócolis, couve, alface e salsa), cereais integrais, leguminosas (feijões, lentilha, ervilha, grão de bico), cogumelos, vísceras (fígado de galinha), frutas (abacate, manga, laranja, tomate, melão, banana), ovos, levedo de cerveja e germe de trigo.

Ao absorver o ácido fólico, o nosso organismo precisará transformar ele em metilfolato, que é a substância ativa derivada do ácido fólico que precisamos.

Acontece que algumas pessoas têm uma variação genética e não conseguem fazer essa transformação de forma adequada. São pessoas que só conseguem metabolizar (converter) de 30 a 70% do ácido fólico adquirido na alimentação (ou suplementação com ácido fólico) em metilfolato (substância ativa do ácido fólico). Nesses casos é necessário realizar uma suplementação diferenciada e contínua, já na forma ativa (metilfolato). 

Quais são os benefícios do metilfolato?

Os benefícios do consumo do metilfolato são muitos. Ele é um grande aliado do cérebro, atuando em sua capacidade cognitiva e na saúde mental e emocional, auxiliando no bom humor. Inclusive, a falta do metilfolato pode piorar quadros de depressão e insônia.

Já no sistema cardiovascular, a substância atua no controle da pressão arterial. Quando combinada com as vitaminas B6 e B12, o metilfolato auxilia na redução da homocisteína que, em excesso, predispõe para doenças cardiovasculares.

O metilfolato também é um aliado da imunidade e estudos mostram que ele ainda atua na prevenção de alguns tipos de câncer

Além disso, ajuda a controlar a oleosidade da pele (auxiliando em casos de inflamações, como acne e espinhas) e favorece o crescimento de unhas e cabelos.

Metilfolato e gravidez

Durante a gravidez, o metilfolato é fundamental para o desenvolvimento fetal e fechamento do tubo neural. Por isso as mulheres são orientadas a fazer suplementação antes mesmo de engravidar e, principalmente, nas primeiras oito semanas de gestação, quando ocorre o fechamento do tubo neural. O problema é que nem sempre o ácido fólico suplementado será convertido de forma eficiente a metilfolato, sendo então mais segura a suplementação de doses adequadas já na sua forma ativa (metilfolato).

Ele também auxilia na fertilidade de homens e mulheres e diminui os riscos de trombofilias, abortos espontâneos, pré-eclâmpsia e diabetes gestacional.

Em outro texto de nosso blog, abordamos com mais detalhes o assunto das trombofilias, onde o metilfolato também é citado. Clique aqui para ler.

DNA e o metilfolato

Como foi mencionado acima, algumas pessoas podem precisar de suplementação contínua de metilfolato (já na forma ativa) devido a um polimorfismo genético que dificulta o bom funcionamento da Metilenotetrahidrofolatoredutase (MTHFR), enzima que faz a transformação do ácido fólico em metilfolato

A Dra. Lia Kubelka, geneticista da Biogenetika, conta que a MTHFR é essencial para vários processos dentro da nossa célula. O mais importante é o reparo de DNA. Você pode assistir ao vídeo aqui.

“Todos os dias, nós estamos expostos a diversas agressões ambientais, como raios ultravioletas, poluição e estresse. É uma infinidade de fatores que acaba fazendo com que as nossas células sofram um dano, que atinge o nosso DNA”, explica. “Mas não se assuste, porque o nosso organismo consegue reparar esse dano com uma ferramenta fantástica e, para isso, a gente precisa do metilfolato.”

Isso acontece por conta da metilação. É que muitos genes podem ser “ligados” ou “desligados” de acordo com alguns hábitos e estilos de vida, através de diversas reações químicas, sendo uma delas a metilação, dependente dometilfolato. “Então, quando eu quero silenciar algum gene, eu necessito que esta enzima esteja funcionando bem para que todo esse processo possa ser realizado da maneira adequada”, explica Dra. Lia. Mas atenção, em caso de suplementação sem necessidade pode ocorrer uma hipermetilação. “Isso pode ter consequências que não são tão boas assim para o organismo. A ciência ainda está tentando entender um pouco melhor quais são essas consequências, mas é sempre bom que a suplementação não ocorra caso realmente não haja necessidade e a pessoa não tenha nenhum tipo de deficiência.”

Ou seja, nem todas as pessoas necessitam da suplementação contínua, inclusive, o excesso de metilfolato também pode prejudicar a saúde. No caso de não apresentar polimorfismos que alterem o bom funcionamento da MTHFR, basta manter uma dieta adequada, consumindo os alimentos ricos em ácido fólico que mencionamos acima e só suplementar em caso de deficiência ou no preparo para a gravidez.

Os exames sanguíneos podem auxiliar na identificação da deficiência de ácido fólico, de vitamina B12 e de aumento de homocisteína, mas não são suficientes para descobrir se há ou não alteração genética e necessidade de suplementação contínua de metilfolato.

A observação de níveis normais ou altos de ácido fólico no exame sanguíneo não garante que não haja deficiência de metilfolato. Inclusive, o ácido fólico pode estar aumentado por falta de conversão a metilfolato.

A única forma, portanto, de obter uma resposta concreta é através de uma análise do DNA. “É um investimento para a vida”, afirma Dra. Lia. “Através dela, você vai poder entender exatamente como funciona o seu organismo e fazer as melhores escolhas para a sua saúde.”