Inflamação crônica e os alimentos
Os processos inflamatórios crônicos corporais têm sido apontados como o “pano de fundo” para diversas doenças crônicas em ascensão na sociedade moderna. Podemos citar como exemplos: diabetes tipo 2, diversos tipos de neurodegeneração e demência, osteopenia e osteoporose, artrite, doenças inflamatórias intestinais, doenças autoimunes, câncer, obesidade, dentre muitas outras doenças.
Mas qual o papel da inflamação neste processo?
A inflamação aguda é uma reação normal e necessária para o corpo humano. Ela tem função de ativação do sistema imunológico para proteção do corpo quando o assunto são as infecções (vírus, fungos, bactérias) ou lesões (cortes, picada de insetos), portanto um sistema de defesa. As células do sistema imunológico, como os mastócitos, enviam sinais de emergência, através da liberação de histamina, por exemplo. Cada célula do sistema imune ativada libera seu pedido de “socorro”. Desta forma outras reações vão ocorrendo, aumentando o fluxo de sangue, o extravasamento de líquido, que provoca edema na área afetada, e a saída de células de defesa. Este processo gera os sinais clássicos da inflamação aguda: dor, vermelhidão, calor, inchaço e imobilidade. O corpo humano foi desenhado para ativar os processos inflamatórios e desativá-los assim que o perigo é atenuado, assim a inflamação é controlada.
O grande problema é quando a inflamação deixa de ser aguda e pontual, e vira um processo crônico e constante. Assim, o corpo fica constantemente ativado, cheio de substâncias inflamatórias, enviando sinais de invasão, como as citocinas pró-inflamatórias, quimiocinas e outros fatores inflamatórios. Cada condição de doença possui seu padrão de inflamação, que pode estar restrito ao órgão de ataque ou se mostrar de forma mais generalizada, principalmente quando mais de uma condição de doença está estabelecida.
Os sinais da inflamação crônica não são tão perceptíveis, portanto podem se apresentar como: fadiga, falta de energia, depressão, ansiedade, dores musculares e nas articulações, constipação, diarreia, mudança no peso ou apetite, dores de cabeça, estado de confusão mental, dentre outros.
Controlar a inflamação crônica é essencial para uma melhor qualidade de vida e longevidade, e para isso, ter um estilo de vida saudável é fundamental. Ter uma alimentação saudável e rica em nutrientes com capacidade antioxidante e anti-inflamatória auxilia o corpo a “desligar” os processos inflamatórios. Assim como manter o hábito de realizar atividades físicas, controlar o peso, evitar o fumo, dormir bem, reduzir consumo de álcool, reduzir o estresse são práticas importantes.
Quando pensamos nos componentes dos alimentos com ação anti-inflamatórias, alguns deles precisam de destaque, como o Ômega-3, principalmente o ácido eicosapentaenoico (EPA). Estudos com diversas populações mostram o papel importante na redução de diversos marcadores inflamatórios com o uso de suplementação de ômega-3, como por exemplo proteína C Reativa (PCR), Fator de necrose tumoral alfa (TNF-a) e interleucina-6 (IL-6). O ômega-3 é um tipo de gordura que quando consumido passa a fazer parte da constituição das células corporais. Assim, quando há quantidades adequadas no corpo, o próprio organismo utiliza esta gordura e consegue finalizar os processos inflamatórios mais rapidamente, através das resolvinas e protectinas. Você pode consumir ômega-3 através de peixes de águas frias e profundas, como sardinha, tainha, salmão ou utilizar suplementos de boas marcas que possuam selo de certificação.
Diversos fitoquímicos dos alimentos, apresentam propriedades anti-inflamatórias. Eles atenuam componentes do processo inflamatório, por exemplo, reduzem a produção de óxido nítrico (NO), da ciclooxigenase-2 (COX-2), inibem enzimas que ativam a transcrição de fator nuclear kappa-B (NF-kB), inibem prostaglandina E2 (PGE2), inibem a liberação de histamina, dentre outros processos inflamatórios. Muitos mecanismos de ação dos fitoquímicos em alimentos foram estudados e, para facilitar, apresentamos uma tabela com alguns alimentos ou partes vegetais, seus princípios ativos e os mecanismos anti-inflamatórios.
Tabela 1. Alimentos, compostos ativos e mecanismos anti-inflamatórios.
Alimentos (fitoquímicos) | Mecanismo anti-inflamatório |
Sementes de uva (procianidinas) | Inibe NO e Prostaglandinas E2 |
Extrato bruto de morango e amora | Reduz níveis de citocinas inflamatórias |
Extrato bruto de pinheiro | Reduz NO e IL-8 |
Extrato bruto de casca de cítricos | Reduz TNF-a e NO. |
(Naringenina): grapefruit, alecrim, suco laranja, vinho tinto | Forte inibidor inflamatório de ciocinas. |
(Naritutina): cítricos | Inibe prostaglandina E2, NO, IL-1b e TNF-a |
Pêra chinesa | Inibe a formação de edema |
Maçã e Pêra | Atividade anti-inflamatória |
Melões amargos selvagens | Inibem citocinas e enzimas inflamatórias |
Feijão mungo | Inibe NO e reduz edema |
Feijão preto | Inibe COX-1 e COX-2 |
Feijão vermelho | Inibe NO |
Feijão adzuki | Suprime liberação de prostaglandina E2 e NO, diminui expressão de mRNA de iNOS e COX-2 devido indução por LPS |
Blueberry (polifenóis) | Inibe NO, IL-1b e TNF-a |
Açaí (flavona velutina) | Forte capacidade anti-inflamatória |
Gengibre (zerumone e 3-O-metil campferol) | Inibe NO, prostaglandina E2, inibe iNOS |
Açafrão da terra ou raiz de Curcuma longa (curcumina) | Reduz NF-kB, MAPK, AP-1. Reduz NLRP3, IL-1, IL-1b, IL-6, IL-8, IL-17, IL-27, TNF-a, iNOS, NO, dentre outros |
(Quercetina e luteolina): cebola, vinho maçã, uvas, aipo, pimentão doce, cenoura, folha de cebola, casca amendoim, brócolis e salsa | Inibe NO, TNF-a, inibe iNOS |
Romã (punicalagina, punicalina, estricninca A, granatina B) | Forte inibidor inflamatório. Inibe citocinas, prostaglandinas E2 e NO |
Legumes (extrato bruto) | Inibem prostaglandinas E2 |
Vegetais crucíferos (fenetil isotiocianato, indol-3-carbinol): brócolis, couve, couve-flor, brotos de couve de bruxelas | Supressão da via dependente de TRIF do TLR3 e TLR4. Reduz NO, PGE2, IL-1b, IL-6, TNF-a, IL-17 |
Vegetais (monogalactosildiacilglicerol) | Reduz mediadores inflamatórios: COX-2, iNOS, NO, prostaglandina E2. |
Cebolinha (polissacarídeos) | Reduz espécies reativas de nitrogênio e aumenta enzimas antioxidantes |
Fonte: Zhu et al. (2018)
De forma geral, manter a alimentação colorida, baseada em todos os grupos de alimentos naturais, adicionados de ervas e outros temperos naturais provenientes de partes de plantas (folhas, caule, sementes e raízes) traz ao corpo capacidade de regular e reduzir os processos inflamatórios. Da mesma forma, reduzir a alimentação industrializada que é rica em aditivos, conservantes e corantes artificiais contribui para este processo.
Conhecendo seu DNA e seu mirobioma intestinal você pode ajustar sua alimentação para um padrão mais anti-inflamatório. As análises genéticas do BioDiet Plus revelam seu padrão genético para marcadores relacionados ao processo inflamatório, e este conhecimento permite a correta suplementação. O Trigger revela seu padrão de microbiota intestinal e como você pode alterá-lo para reduzir a inflamação a partir da modulação intestinal.
REFERÊNCIAS
CHAVES, D.F.S. Compostos bioativos dos alimentos. São Paulo: Valéria Pascoal Editora Ltda, 2015.
Harvard Health Publishing. Fighting Inflammation. 4 Blackfan Circle, 4th Floor | Boston, MA 02115, 2020.
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