As marcas epigenéticas podem ser vistas como uma memória de exposição a fatores ambientais no início da vida, dentre eles, a nutrição ocupa um papel fundamental. 

O ambiente intra-uterino durante a gestação é um programador crítico da epigenética do bebê em desenvolvimento e as alterações de nutrientes, oxigênio, assim como possíveis infecções e estresse materno desempenham papel crucial como gatilhos para as marcações epigenéticas. Neste momento os tecidos embrionários estão em formação, crescimento e desenvolvimento e irão moldar as respostas do corpo na vida após o nascimento.

O consumo de alimentos ricos em nutrientes doadores de metil ou a sua suplementação são essenciais para o adequado desenvolvimento do bebê durante a gestação. A presença do polimorfismo no gene MTHFR na mãe pode comprometer a funcionalidade do folato como doador de grupo metil durante a gestação, aumentando as chances de abortos espontâneos, mal formações fetais e redução global da metilação do DNA e ao aumento de risco cânceres, portanto sua identificação é necessária. 

Os nutrientes que fazem parte da via de doação ou regeneração do grupo metil são a metionina, colina, betaína e as vitaminas B2, B6, folato e B12. Colina e a betaína foram relacionadas com o adequado desenvolvimento cerebral durante a gestação, induzindo mudanças epigenéticas que modulam a expressão de genes para a diferenciação neuronal e formação de novos vasos no hipocampo. A suplementação com estes nutrientes doadores de metil previne a amplificação transgeracional da obesidade nos descendentes.

São fontes destes nutrientes doadores de metil os peixes, carnes brancas e vermelhas, vísceras (coração de frango, fígado), queijos e lácteos, semente de abóbora, cogumelo, feijão preto, lentilha, folhas verde escuras, brócolis, ovos, gérmen de trigo, espinafre, beterraba, leveduras.

Nutrição e epigenética no período pré e pós-natal

O período entre a concepção, gestação e o primeiro ano de vida, conhecido como 1000 dias é considerado um tempo importantíssimo para que os fatores ambientais exerçam marcações epigenéticas.

Estudos mostram que o maior risco para desenvolvimento de síndrome metabólica e diabetes ocorre nos adultos que nasceram pequenos para a idade gestacional e ficam acima do peso na primeira infância. A desnutrição pré-natal, o baixo peso ao nascer e o crescimento pós-natal precoce está relacionado com mecanismos de resistência à insulina relacionados a alterações na neogênese das ilhotas pancreáticas, prejudicando a capacidade de regeneração das células beta com o avançar da idade adulta.

Tanto a subnutrição quanto a supernutrição durante a gestação e fase pós-natal induzem a alterações estáveis nos descendentes. Por exemplo, a restrição de alimentos protéicos durante a gestação pode alterar fatores que se relacionam a maior suscetibilidade para hipertensão, dislipidemia e prejuízos no metabolismo da glicose. Esta redução protéica leva a alterações na metilação do DNA e modificações nas histonas de genes específicos, como o receptor glicocorticóide e PPAR alfa no fígado dos descendentes. A suplementação com folato pode neutralizar estes efeitos.

Dietas ricas em gorduras durante o início da vida induzem mudanças epigenéticas no genoma em lugares específicos de genes associados à obesidade, resistência à insulina e diabetes tipo 2, assim como à expressão de micro RNAs (miRNAs) relacionados a obesidade e ao metabolismo lipídico.

A primeira infância constitui uma janela de oportunidade para intervenção epigenética que pode ser capaz de prevenir ou mesmo reverter os efeitos negativos dos fatores de risco ambientais. Uma das condições de saúde que se beneficia de intervenções neste período é o equilíbrio entre a resposta imunológica entre as células Th1 e Th2, portanto respostas que alcancem defesa contra infecções e câncer, mas que reduzam o risco de desenvolver condições inflamatórias alérgicas e autoimunes.

A suplementação materna com ômega-3 de óleo de peixe durante a gestação modifica as respostas imunes do recém-nascido reduzindo as doenças alérgicas. Estudos mostram uma redução nos metabólitos de quinurenina no sangue dos filhos cujas mães receberam a suplementação de ômega-3 na gestação, o que se correlacionou com menor risco de asma alérgica nas crianças.

Os benefícios do ômega-3 também são vistos durante o período de amamentação e se relacionam com a regulação epigenética para o correto desenvolvimento do sistema nervoso e suas funções. Ainda desempenham impacto considerável no sistema imunológico, incluindo processos inflamatórios, de apoptose e estresse oxidativo. A suplementação com óleo de peixe na infância induz modificações na metilação do DNA em células do sistema imunológico modulando as respostas alérgicas.

Os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) derivados da microbiota intestinal induzem alterações epigenéticas. São produzidos pela fermentação intestinal de fibras e carboidratos não digeríveis da alimentação e desempenham papel importante na manutenção da saúde intestinal e controle de bactérias patogênicas. O butirato, um dos AGCC, pode ser absorvido e executar atividade epigenética no controle de respostas do sistema imunológico levando à maior tolerância a alérgenos e contenção da resposta imune.

Portanto o correto suporte nutricional na gestação, com o consumo adequado de proteína, carboidratos e gorduras, assim como as vitaminas e minerais são essenciais para o correto desenvolvimento, e influenciam nas doenças da vida adulta. A nutrição adequada durante os primeiros mil dias de vida de uma criança é fundamental para o desenvolvimento e uma vida saudável

Descobrir, nesta fase fundamental da vida, se algum polimorfismo genético pode influenciar o aporte adequado de nutrientes, como ômega-3 e ômega-6 ou alterações no metabolismo do folato são necessários para a correta indicação de condutas nutricionais que auxiliem o desenvolvimento de cada criança. Ainda é importante conhecer a suscetibilidade às intolerâncias alimentares e a melhor distribuição de nutrientes para o desenvolvimento. No BioDiet Plus e BioNutrientes da Biogenetika é possível descobrir estes e outros marcadores genéticos que influenciam o desenvolvimento saudável na infância.

REFERÊNCIAS

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