A constância de boas noites de sono é fundamental para o organismo, pois funções essenciais ocorrem durante as fases do sono, como a liberação de hormônios de crescimento, fortalecimento do sistema imune, o reparo de tecidos, limpeza de toxinas cerebrais acumuladas ao longo do dia, consolidação de memórias, além de conservar energia. 

O processo do sono envolve diversas partes do cérebro (hipotálamo, tronco cerebral, glândula pineal) além de outros órgãos do corpo. O hipotálamo contém o núcleo supraquiasmático, que recebe informações sobre a luz e controla o ritmo comportamental. O tronco cerebral se comunica com o hipotálamo para controlar a transição entre o sono e a vigília. A glândula pineal, localizada entre os hemisférios do cérebro, produz o hormônio melatonina, que ajuda a induzir o sono. Todo esse mecanismo é adaptado geneticamente e seu desenvolvimento depende de alguns fatores externos, como qualidade do ambiente para o sono (temperatura, barulhos e luz), hábitos e vida social. 

A adenosina produzida a partir da degradação de ATP (adenosina trifosfato) é um produto que promove o sono. Seus níveis aumentam no prosencéfalo basal durante o dia ou com vigília prolongada e diminuem durante o sono. Quanto maior o gasto energético, maior a produção de adenosina. A degradação da adenosina depende da enzima adenosina deaminase (ADA) que é responsável por metabolizar a inosina. O polimorfismo de nucleotídeo único (SNP), rs73598374 no éxon 1 do gene ADA, que altera o alelo C pelo alelo T, modula a atividade da enzima ADA. Os portadores do alelo T têm menor atividade da enzima, levando a níveis mais altos de adenosina na circulação e no meio intracelular quando comparado aos indivíduos homozigotos para o alelo C. 

A presença deste polimorfismo tem sido relacionada ao comportamento do sono, sendo que os portadores do alelo T apresentaram maiores quantidades de sono de ondas lentas (sono profundo, não-REM) e um número reduzido de despertares noturnos. O polimorfismo não apenas modula a estrutura e intensidade do sono, mas também contribui de forma importante para as diferenças na qualidade de vigília, incluindo sonolência e atenção. Os mecanismos que levam isto ainda são incertos, um dos que recentemente está sendo investigado é a capacidade de alterar a síntese de melatonina da glândula pineal. A ausência de luz aumenta a liberação de melatonina, o que aumenta a sonolência. A melatonina é sintetizada pela conversão de triptofano para 5-HTP, em seguida para 5-HT, para N-acetilserotonina (NAS) e então melatonina. 

Em estudos experimentais, a administração direta de adenosina em extratos pineais de ratos levou ao aumento de até 4 vezes na liberação de melatonina. Em humanos encontraram níveis mais altos de melatonina, em indivíduos portadores do alelo T, à noite. A reduzida função da enzima ADA, leva a níveis mais elevados de adenosina que é precursora de NAS, a partir do ATP na glândula pineal, o que pode levar a síntese aumentada de melatonina. Efeitos combinados de altos níveis de melatonina e adenosina induzem sonolência, conforme os níveis aumentam, e promovem vigília, conforme os níveis caem. A relação entre a saúde do sono e o genótipo ADA relaciona-se à qualidade do sono, mas sem diferenças significativas entre as medidas de insônia ou sonolência geral.

Outra relação importante que ocorre no cérebro é a ação facilitadora do BDNF (Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro) na potenciação de longo prazo (LTP), que requer adenosina endógena e a falta de adenosina impede esta atividade. A LTP é um mecanismo que aumenta as respostas pós-sinápticas dopaminérgicas que ocorrem de forma duradoura nos neurônios hipocampais resultando na transmissão do sinal a longo prazo, consolidando a memória. Assim, é possível que o BDNF e o sistema neuromodulador da adenosina interajam para mediar as consequências da atividade neural durante a vigília na regulação do sono não-REM.

Os receptores A2A de adenosina desempenham papel principal nos efeitos da cafeína no sono. O polimorfismo rs5751876 no gene ADORA2A modula à sensibilidade à cafeína durante o sono e tem efeito marcante nas oscilações de ondas entre os estágios do sono REM, não-REM e vigília, assim como à maior sensibilidade à ansiedade induzida pela cafeína. A cafeína é um antagonista do receptor de adenosina, promovendo vigília. Tanto nos níveis farmacodinâmicos e de consumo, quanto nos de tolerância à privação de sono e efeitos colaterais, vários polimorfismos do gene ADORA2A, o principal alvo da ação da cafeína no cérebro, demonstraram estar implicados. Portanto, a dose consumida e o horário de consumo de cafeína podem prejudicar a qualidade de sono.

A análise individualizada baseada na genética é fundamental para direcionar os ajustes no estilo de vida que propiciem melhoria na qualidade do sono, como aumento de atividade física durante o dia, redução no consumo de cafeína, e aumento do consumo de alimentos que forneçam precursores de melatonina, como os ricos em triptofano (peito de peru, ovos, sementes de abóbora, nozes e queijo), além de carboidratos complexos, como os grãos integrais e batata doce. Com o BioDiet Plus e BioMental da Biogenetika você dispõe de ferramentas de análises completas para ajustar seus hábitos de vida e suplementações para adequar sua qualidade de sono.

*Conceito de polimorfismo: são as variações na sequência de DNA que podem alterar as proteínas produzidas pelo organismo podendo gerar impactos para as vias envolvidas, metabolismo e saúde de quem as porta. Para ser considerado um polimorfismo esta variação precisa ser de no mínimo 1% em uma população.

REFERÊNCIAS

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