Microbioma intestinal e câncer de próstata
O câncer de próstata é uma das principais causas de mortalidade entre homens no mundo, destacando-se como um desafio significativo para a saúde pública global. Apesar dos avanços nas terapias convencionais, como cirurgia, radioterapia e tratamentos hormonais, ainda existem lacunas no diagnóstico precoce e na eficácia dos tratamentos, especialmente em estágios avançados. Nesse cenário, o microbioma intestinal desponta como um elemento-chave no entendimento das origens e progressão do câncer de próstata. O microbioma, uma complexa comunidade de microrganismos que habita o trato gastrointestinal, exerce influência direta em funções metabólicas, imunológicas e inflamatórias do organismo, fatores intimamente ligados à carcinogênese prostática. Estudos recentes têm revelado que alterações específicas na composição microbiana – conhecidas como disbiose – podem favorecer processos inflamatórios crônicos, desregulação hormonal e resistência a tratamentos, além de serem associadas à progressão tumoral. Por outro lado, a modulação do microbioma através de dietas, probióticos, prebióticos e até transplante de microbiota fecal apresenta-se como uma estratégia promissora tanto na prevenção quanto no manejo clínico do câncer de próstata. Assim, compreender e explorar a interação entre o microbioma intestinal e a saúde prostática abre caminho para abordagens terapêuticas mais eficazes e personalizadas, com potencial de impactar positivamente os desfechos clínicos e a qualidade de vida dos pacientes.
Conexão entre Microbioma e Doenças Prostáticas
O microbioma intestinal impacta funções imunológicas, metabólicas e inflamatórias, sendo essencial na homeostase intestinal. Sua disbiose está associada a doenças crônicas, incluindo distúrbios prostáticos. Estudos indicam:
- Redução da diversidade microbiana em pacientes com prostatite crônica/síndrome de dor pélvica crônica.
- Alteração na proporção de bactérias Firmicutes/Bacteroidetes em Hiperplasia Prostática Benigna.
- Predomínio de bactérias inflamatórias, como Proteobacteria, em câncer de próstata avançado.
Mecanismos Patogênicos
- Infecções diretas e inflamação sistêmica: bactérias intestinais podem alcançar a próstata via corrente sanguínea ou trato urinário, promovendo inflamação crônica.
- Desregulação imunológica: ácidos graxos de cadeia curta, produzidos pela microbiota, influenciam a imunomodulação prostática, ora exacerbando inflamações, ora promovendo autodefesa.
- Metabolismo hormonal: certos microrganismos intestinais metabolizam andrógenos, interferindo na eficácia da terapia de privação androgênica no câncer de próstata.
Diagnóstico
- Identificação de biomarcadores microbianos: Alterações específicas no microbioma, como o aumento de Proteobacteria e a redução de Faecalibacterium prausnitzii em pacientes com CP avançado, podem servir como marcadores não invasivos para triagem e diagnóstico precoce.
- Diversidade microbiana: A redução na diversidade alfa e mudanças na beta-diversidade têm sido consistentemente associadas ao câncer de próstata, auxiliando na diferenciação entre câncer de próstata e condições benignas como a hiperplasia prostática benigna.
Prevenção
- Regulação da inflamação sistêmica: a disbiose intestinal promove inflamação crônica por meio de metabólitos como lipopolissacarídeos (LPS), que ativam vias inflamatórias (NF-kB e IL-6/STAT3) relacionadas à carcinogênese prostática. Intervenções para restaurar o equilíbrio microbiano podem reduzir esse risco.
- Produção de metabólitos protetores: ácidos graxos de cadeia curta como butirato têm propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras que podem prevenir o avanço de lesões prostáticas.
Terapias Baseadas no Microbioma
- Dietas e suplementos: dietas ricas em gorduras exacerbam a disbiose, enquanto fibras e polifenóis (e.g., romã e chá verde) oferecem benefícios protetores.
- Modulação da resposta à terapia hormonal: Bactérias intestinais podem metabolizar andrógenos, impactando a eficácia da terapia de privação androgênica no câncer de próstata avançado. Identificar microbiotas específicas pode orientar intervenções para otimizar o tratamento.
- Probióticos e prebióticos: promovem o crescimento de bactérias benéficas, potencialmente atrasando o avanço de doenças prostáticas.
- Transplante de microbiota fecal (FMT): demonstra eficácia inicial em equilibrar a microbiota e reduzir a progressão de CP resistente a castração.
- Compostos naturais: substâncias como lignanas e astaxantina mostram efeitos promissores na regulação imunológica e metabólica via microbioma.
Aplicações Clínicas Diretas
- Estratificação de risco: o perfil microbiano pode ser integrado a ferramentas de risco para prever a agressividade do câncer prostático e orientar exames complementares.
- Prevenção personalizada: dietas moduladoras do microbioma, ricas em fibras e polifenóis, podem ser recomendadas para populações de risco.
- Redução de efeitos colaterais: ajustes na microbiota intestinal podem mitigar efeitos adversos de terapias convencionais, como diarreia induzida por radioterapia.
Este conhecimento destaca oportunidades práticas para profissionais da saúde funcional e integrativa, evidenciando a relevância de intervenções personalizadas baseadas no MI para otimizar a saúde prostática e geral.
REFERÊNCIA: doi: 10.3389/fcimb.2024.1431088