A influência da genética na enxaqueca
O que é enxaqueca?
A enxaqueca consiste em uma desordem neurovascular crônica, caracterizada por ataques recorrentes de dores de cabeça pulsante com intensidade moderada/severa (geralmente unilateral) associada a outros sintomas como náusea, vômito, fotofobia (aversão a luz) e fonofobia (aversão a sons).
Em aproximadamente 25% dos indivíduos com enxaqueca as crises são acompanhadas de aura, uma alteração neurológica caracterizada pela presença de distúrbios reversíveis no campo visual, na fala e nas capacidades motora e sensitiva. A enxaqueca afeta aproximadamente 15% da população ocidental adulta, sendo mais prevalente em mulheres que em homens. Segundo dados do Global Burden of Disease a enxaqueca é a sexta desordem mais prevalente no mundo em indivíduos na faixa etária dos 15-49 anos.
Fatores relacionados a enxaqueca?
A enxaqueca é uma doença caracterizada pela interação de múltiplos fatores genéticos e ambientais.
Uma crise de enxaqueca pode durar até 72h e, durante esse período, diversos compostos neuromoduladores apresentam um papel importante, dentre os quais a calcitonina, o glutamato, a serotonina, as citocinas, as endotelinas, a hipocretina-1 e a homocisteína.
A homocisteína é um aminoácido tóxico, que quando presente no nosso organismo em concentração elevada, pode aumentar o risco de desenvolver diversas doenças.
O aumento dos níveis de homocisteína pode ocorrer em função de variação genética no gene chamado MTHFR, responsável por produzir a forma ativada da vitamina B9, chamada de 5-metilenotetrahidrofolato.
A degradação de homocisteína depende da presença de níveis adequados de 5-metilenotetrahidrofolato, vitamina B6 e vitamina B12.
MTHFR, homocisteína e enxaqueca
O gene mais amplamente estudado na enxaqueca é o MTHFR e seu polimorfismo na variante C677T. Estudos mostram que a prevalência de polimorfismo (variação) nesse gene é maior em indivíduos com enxaqueca, principalmente nos que apresentam aura.
O MTHFR é, portanto, considerado um fator de risco genético associado à enxaqueca.
A presença de variação no MTHFR também pode influenciar no tipo de sintomas clínicos apresentados. Ou seja, dependendo do tipo de polimorfismo, há maior predisposição para dores de cabeça unilaterais ou ainda, maior risco em desencadear crises por atividade física ou estresse.
O polimorfismo do MTHFR também tem relação com a duração das crises de enxaqueca e a amplitude das alterações visuais. Um estudo muito interessante que avaliou os níveis de homocisteína no fluido cerebroespinhal (líquido que envolve o sistema nervoso central) de pessoas com enxaqueca demonstrou que aquelas que apresentavam enxaqueca com aura tinham aumento de 376% da homocisteína nesse fluido, enquanto nas com enxaqueca sem aura o aumento foi de apenas 41% em relação aos indivíduos que não apresentavam enxaqueca.
Níveis maiores de homocisteína também estão associados a crises de enxaqueca mais severas.
Considerações finais
A investigação da presença de polimorfismo genético em indivíduos com enxaqueca pode ser extremamente benéfica, visto que essa variação pode influenciar uma ampla gama de sintomas clínicos relacionados a enxaqueca.
Quando se tem o conhecimento da presença do polimorfismo, é possível otimizar o tratamento nutricional dos indivíduos, diminuindo os fatores de risco associados ao desenvolvimento e a severidade das crises de enxaqueca.
Fonte:
Expert Opin Ther Targets. 2019 Jan;23(1):29-37. doi: 10.1080/14728222.2019.1549544.