A melatonina é uma indolamina produzida a partir do triptofano, um hormônio natural secretado principalmente pela glândula pineal. Seus níveis aumentam no período noturno, na ausência de luz, e reduzem durante o dia, afetando os ritmos circadianos. O ritmo não está apenas conectado ao ciclo de sono e vigília, mas também desempenha um papel na fome, na saciedade, na maior consciência e na disposição para as atividades do dia. É uma molécula complexa com um sistema de feedback mais complexo.

A melatonina interage com seus receptores, codificados pelo gene do receptor de melatonina, MTNR, nas ilhotas pancreáticas para prevenir a secreção de insulina, exercendo um papel na regulação da homeostase da glicose. A melatonina tem a capacidade de regular os níveis circulantes de glicose no soro através de sua ligação diretamente aos receptores de melatonina nos hepatócitos, bem como regular a captação de glicose nos adipócitos, modulando a expressão do transportador de captação de glicose. Além disso, foi relatado que a melatonina estimula a secreção de glucagon, outro hormônio importante no metabolismo da glicose e da insulina.

Em indivíduos saudáveis, a homeostase da glicose é rigorosamente controlada através de uma via complexa de mecanismos que envolvem múltiplos órgãos e tecidos. O equilíbrio normal da glicose geralmente é prejudicado devido a uma redução contínua na função das células beta pancreáticas e na secreção de insulina. 

A perturbação do sistema circadiano interno pode aumentar o risco de desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2 (DM2), e estudos observacionais indicam que os níveis de melatonina noturna são reduzidos em pacientes diabéticos, especialmente para aqueles que sofrem de neuropatia diabética. A baixa secreção de melatonina também foi independentemente correlacionada com um maior risco de desenvolver DM2; uma associação que estabelece ainda mais os papéis da melatonina no controle glicêmico e na sensibilidade à insulina.

Diversos estudos de intervenção com uso de suplementação de melatonina em humanos foram realizados com resultados interessantes no controle da glicose. Administração de suplementação de melatonina na dosagem de 6 mg por 12 semanas verificou redução da glicemia de jejum em pacientes diabéticos. Em mulheres, no período de menopausa, a suplementação associada de melatonina e mio-inositol melhorou o metabolismo da glicose. Ainda na dosagem de 10 mg/dia durante 12 semanas melhorou o controle glicêmico em pacientes diabéticos que sofrem de doença coronariana. Também há resultados na melhora do estado inflamatório e redução de Acanthosis Nigricans em indivíduos obesos com o uso de melatonina. Estudo de revisão sistemática com meta-análise em humanos indicou que a suplementação de melatonina reduziu a glicemia de jejum, com aumento de sensibilidade de insulina (QUICKI), mas não afetou os níveis de insulina, HOMA-IR e HbA1c. Entretando antes de utilizar suplementos de melatonina para melhorar o controle da glicose é preciso considerar as variantes genéticas no gene do receptor de melatonina. 

Evidências de análises pré-clínicas e clínicas pós-genoma amplas (GWAS) de variantes do gene MTNR, e um aumento de risco de desenvolver DM2, redução na função de células beta e controle glicêmico prejudicado. A principal variante envolvida é a do gene do receptor de melatonina 1b (MTNR1B) rs10830963 (C/G). Os receptores de melatonina estão presentes em ilhotas pancreáticas e verifica-se aumento na expressão destes receptores no pâncreas de indivíduos com DM2.

Estudos in vitro e in vivo encontraram que a suplementação de melatonina pode reduzir a secreção de insulina levando a maiores níveis de glicose plasmática em indivíduos portadores do alelo G de MTNR1B (rs10830963), pois está associado a aumento da expressão de MTNR1B nas ilhotas de Langerhans no pâncreas e redução na taxa de liberação de insulina. Ainda é possível verificar maior ganho de peso associado a uma dieta normal para os portadores do alelo G, do que para os não portadores. 

Outro estudo sugeriu que o efeito da suplementação de melatonina é particularmente relevante para portadores do alelo G associado ao risco durante a manhã, quando os níveis circulantes endógenos são ainda elevados, mas não durante a noite, quando respondem como seus alelos homólogos comuns. Embora as implicações dessas descobertas precisem ser mais exploradas, elas indicam que o efeito da melatonina no metabolismo da glicose é influenciado pela base genética.

Portanto, antes de indicar a suplementação de melatonina é preciso considerar o polimorfismo genético no gene MTNR1B. Esta análise está disponível no BioNutrientes da Biogenetika além de outros polimorfismos que são fundamentais para a prática da saúde de forma integral nas diversas fases da vida.

*Conceito de polimorfismo: são as variações na sequência de DNA que podem alterar as proteínas produzidas pelo organismo podendo gerando impactos para as vias envolvidas, metabolismo e saúde de quem as porta. Para ser considerado um polimorfismo esta variação precisa ser de no mínimo 1% em uma população.

REFERÊNCIAS

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