Equilíbrio hídrico no esporte e genética
A água é o meio de transporte para nutrientes, gases e produtos das vias metabólicas, também as reações ocorrem em meio aquoso. O controle térmico do organismo utiliza as propriedades físicas da água para troca de calor na vaporização. No exercício físico e no estresse térmico há desequilíbrio de fluidos e eletrólitos, havendo desidratação caso o consumo de líquidos seja inadequado. Desta forma, se o atleta inicia a prática de exercícios eu-hidratado (normalmente hidratado) tornar-se-á hipohidratado (com déficit de água) ao longo da prática do esporte. Se esta prática for realizada em ambientes quentes, maior atenção é necessária para manter a performance e ativação de mecanismos termorreguladores.
A maior proporção de água total do corpo, aproximadamente 53% encontram-se dentro das células ou no compartimento intracelular. A água extracelular, representa em torno de 32%, e está compartimentalizada nos espaços intersticial e intravascular, onde ocorrem trocas de fluídos que refletem o nível de hidratação celular. A troca entre os fluidos dos meios intra e extracelulares depende do gradiente osmótico, por osmose a água atravessa de uma região de menor concentração de solutos para uma maior na tentativa de igualar as diferenças entre os meios. A água consegue passar livremente de um compartimento para outro devido à propriedade semipermeável das membranas celulares, mas os solutos possuem um controle seletivo, mantendo sódio e cloreto no extracelular e potássio e magnésio no intracelular.
O equilíbrio hídrico corporal depende da diferença entre a água ingerida e a perdida. A ingestão de líquidos pode ser realizada através de alimentos ricos em água, como frutas e vegetais, além do consumo de água propriamente. A metabolização de nutrientes também libera líquido, em média 250mL/dia. A eliminação, em repouso, ocorre pela urina e fezes e varia entre 1 a 1,5L/dia. Em exercícios e calor intenso reduzem a produção de urina em 20 a 60%, enquanto o frio e a hipóxia aumentam a produção de urina.
Os rins são os órgãos mais importantes na regulação do equilíbrio hídrico e eletrolítico e respondem a uma maior ou menor filtração de acordo com a osmolaridade plasmática. A ingestão hídrica e o volume urinário são os únicos que são controlados pelo estado hídrico corporal. O aumento da osmolalidade (aumento de sódio) estimulam a liberação de vasopressina (hormônio antidiurético) que por sua vez aumenta a reabsorção de água pelos rins, a vasoconstrição arterial e a sede. A diminuição do volume de sódio/fluido extracelular/sangue, portanto na pressão arterial estimula o sistema renina-angiotensina-aldosterona, o que aumenta a reabsorção de sódio pelos rins resultando em retenção de água e eleva a pressão arterial. De forma contrária, o peptídeo natriurético atrial (ANP) é liberado quando a pressão aumenta, reduzindo a absorção de sódio nos rins e diminuindo a retenção de líquidos.
Durante o exercício, a angiotensina II, aldosterona, vasopressina e catecolaminas aumentam com a diminuição do volume plasmático, servindo para aumentar o volume sanguíneo e sistólico. Esta resposta é exacerbada com a desidratação. Estes hormônios aumentam com a intensidade do exercício e na magnitude do déficit hídrico. O ANP é liberado durante os exercícios, mas tem seus efeitos diuréticos compensados pelos hormônios anteriormente mencionados. A reidratação rápida após os exercícios pode levar a uma resposta diurética rápida pela ação no ANP.
O angiotensinogênio (AGT), é um glicoproteína tubular e sua concentração impõe limitação na taxa de geração de angiotensina I e angiotensina II, sendo de grande importância na ativação do sistemas renina-angiotensina (SRA). O polimorfismo rs699 no gene AGT, com a presença da variante G resulta em mudança na proteína angiotensinogênio, com aumento de 10 a 30%, para os portadores, na concentração plasmática de AGT, sendo os indivíduos com genótipo GG os que apresentam maior nível de AGT. O alelo G foi associado ao AGT mais alto o que consequentemente eleva os níveis de angiotensina II, que é um fator hipertrófico direto no músculo esquelético, redirecionando o fluxo sanguíneo das fibras tipo I para as fibras rápidas e potentes tipo II, podendo ser benéfico no desempenho esportivo de potência (sprint). Ainda a presença do alelo G leva à retenção de sódio e água, o que pode ser vantajoso para a reidratação após a perda de fluidos ocasionada pelo exercício físico.
Os polimorfismos rs4340 (I/D) e rs4343 (A/G) do gene da enzima conversora de angiotensina (ECA) foram associados a um maior fluxo sanguíneo, melhor utilização de açúcar pela musculatura e melhor disciplina de resistência quando os alelos variantes (I e A) estão presentes. Este gene desempenha um papel fundamental no sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), que é crucial para a regulação da pressão arterial, equilíbrio de eletrólitos, e volume de fluidos no corpo. Devido à sua função no sistema cardiovascular e na regulação da pressão arterial, o rs4343 pode influenciar o desempenho físico e a reidratação. A atividade da enzima ACE, modulada pelas variantes rs4340 e rs4343, pode influenciar como o corpo responde ao exercício e como ele gerencia a recuperação e reidratação após o esforço físico.
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*Conceito de polimorfismo: são as variações na sequência de DNA que podem alterar as proteínas produzidas pelo organismo podendo gerar impactos para as vias envolvidas, metabolismo e saúde de quem as porta. Para ser considerado um polimorfismo esta variação precisa ser de no mínimo 1% em uma população.
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