
Deficiência de biotinidase: genética, sintomas e suplementação
Mamíferos não sintetizam biotina, portanto precisam obter de fontes exógenas na forma de biocitina. Nos alimentos a biotina pode estar livre ou ligada à proteína e sofre ação de proteases e peptidases formando a biocitina. A biotinidase é uma glicoproteína com atividade enzimática atua nos sucos digestivos pancreático e intestinal onde hidrolisa a biocitina liberando a biotina, que será absorvida desta forma. Ainda atua no soro, leucócitos, fibroblastos e no fígado como enzima catalítica na liberação de peptídeos biotinilados, portanto desempenha papel importante no metabolismo desta vitamina. Uma causa comum de deficiência adquirida de biotina está associada ao consumo de ovos crus ou a vários tratamentos (anticonvulsivantes, isotretinoína e antibióticos). As principais fontes alimentares de biotina livre são os vegetais, como amendoim, avelã, farelo de trigo, amêndoa, farelo de aveia, nozes, dentre outros.
Variantes no gene da biotinidase pode afetar de forma importante os níveis de biotina, assim como prejudicar a reciclagem e levar a perda urinária de biotina na forma de peptídeos biotinilados. A deficiência de biotinidase (DB) é uma doença metabólica autossômica recessiva, causada por mutações no gene BTD, que leva a ausência ou redução da atividade da biotinidase, prejudicando a quebra e a reciclagem da biotina a partir da biocitina e peptídeos biotinilados.
Esta condição afeta neonatos em todo o mundo, as manifestações clínicas incluem questões neurológicas (convulsões, atraso mental, hipotonia, ataxia, perda auditiva, manifestações visuais), cutâneas (erupções cutâneas e alopecia) e respiratórias associadas a dificuldades respiratórias. Ainda foram observadas, de forma mais rara, acidose metabólica e anormalidades em células imunológicas que levam ao coma e à morte. Em adultos, a deficiência provoca alterações mentais (depressão e alucinações), parestesia, anorexia e náusea, pode acorrer erupção cutânea eritematosa seborreica nas extremidades e ao redor dos olhos, do nariz e da boca.
Baseado na atividade da biotinidase plasmática os indivíduos podem ser classificados em deficiência parcial com manifestações leves (BD parcial) e deficiência profunda com manifestações graves (BD profunda). Para os indivíduos com deficiência profunda o início dos sintomas podem ocorrer mais na infância e adolescência, com fraqueza dos membros motores, paresia espástica e visão prejudicada. Indivíduos com a condição que não são tratados, exibindo ou não os sintomas, podem experimentar uma gama de anormalidades metabólicas, como cetoacidose, acidose lática e hiperamonemia.

A triagem para o diagnóstico de BD neonatal por técnicas bioquímicas pode ser desafiadora, pois a atividade enzimática é influenciada por fatores externos, como manuseio inadequado de amostras, secagem inadequada, envio tardio ou exposição a excesso de calor. Por outro lado, o sequenciamento do polimorfismo rs13078881 (c. 1330G>C) no gene BTD é útil para determinar o status de BD e indicar a correta abordagem para decisões terapêuticas. Além disso, os resultados bioquímicos limítrofes podem ser mais bem avaliados se as mutações BTD subjacentes forem conhecidas.
A suplementação com biotina previne o desenvolvimento dos sintomas em crianças assintomáticas com BD profunda. Os sintomas podem ser atenuados e a progressão pode ser interrompida com doses medicamentosas de biotina via oral (10mg de biotina por dia), entretanto, alguns sintomas como dificuldades de visão, audição ou cognitivos podem ser irreversíveis, caso não haja intervenção precoce. Estudos sobre alopecia identificaram que, em pacientes com atividade de biotinidase diminuída em comparação aos controles, apresentaram remissão clínica após suplementação de biotina.
O conhecimento da genética de risco para alterações na biotinidase, através do BioNutrientes da Biogenetika, e o tratamento precoce com suplementação de biotina podem evitar sintomas graves corrigindo deficiências de forma preventiva. A individualização integral do cuidado com a saúde através o teste nutrigenético direcionando o rastreio diagnóstico precoce e tratamentos de acordo com as características genéticas individuais, melhorando os resultados e trazendo mais qualidade de vida.
*Conceito de polimorfismo: são as variações na sequência de DNA que podem alterar as proteínas produzidas pelo organismo podendo gerando impactos para as vias envolvidas, metabolismo e saúde de quem as porta. Para ser considerado um polimorfismo esta variação precisa ser de no mínimo 1% em uma população.
REFERÊNCIAS
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