A serotonina (5-hidroxitriptamina, 5-HT) é um neuromodulador, embora a função geral desta pequena molécula ainda seja pouco compreendida. Muitas vezes referida como o “hormônio da felicidade”, em parte devido aos efeitos positivos dos inibidores seletivos da recaptação de 5-HT (ISRS) em alguns pacientes com transtornos depressivos, o papel da 5-HT é muito mais amplo e complexo porque está envolvido nas respostas ao estresse e nos transtornos de humor em diferentes níveis. Os sistemas 5-HT podem garantir o ajuste fino de comportamentos em várias situações, às vezes inibindo respostas comportamentais aprendidas que seriam inapropriadas ou ajustando o tempo das respostas para garantir um comportamento mais adaptado.

O aminoácido precursor triptofano é hidroxilado pela triptofano hidroxilase, resultando em 5-hidroxitriptofano (5-HTP) que então é descarboxilado pela descarboxilase de aminoácidos aromáticos em 5-HT. O 5-HT pode atingir os compartimentos vesiculares através do transportador vesicular para monoaminas. O catabolismo do 5-HT é complicado, não tanto pelas vias enzimáticas recrutadas envolvendo a monoamina oxidase A ou B (MAOA, MAOB) e a aldeído desidrogenase para produzir o metabólito final ácido 5-hidroxiindol acético (5-HIAA). O catabolismo é complicado porque envolve preferencialmente a enzima MAOA em mamíferos e este subtipo, em desacordo com MAOB, geralmente não está localizado nos terminais dos neurônios 5-HT. Isso implicaria que o catabolismo de 5-HT está em parte associado a outras células. O polimorfismo rs1137070, no gene MAOA, foi associado a uma atividade aumentada da enzima, levando a menores níveis de serotonina.

Em mamíferos, as maiores quantidades de 5-HT são encontradas na substância negra (500–1000 pg/mg), seguida pela área tegmentar ventral e núcleos do rafe. Quantidades moderadas a altas são encontradas em outras regiões do cérebro e na medula espinhal. 5-HT atua em uma variedade de receptores que são organizados em sete famílias (5-HT1-7R) e mais de 16 subtipos foram descritos. 

Diversas funções motoras e excitatórias são realizadas pelos sistemas de neurônios 5-HT, incluindo atividades como como higiene, atividade oral, mastigação ou mordida. Também quando o rosto ou a cabeça são estimulados e atividades motoras repetitivas. Está implicado nos estados de sono-vigília, promovendo a vigília e prevenindo o sono atuando na fase REM com movimentos oculares rápidos, sendo reduzida na fase de ondas lentas. Um dos metabólitos de 5-HT é a melatonina, que também regula o ciclo sono-vigília.

Impulsividade, compulsividade e flexibilidade comportamental participam dos traços de personalidade dos indivíduos e da tomada de decisões. Em humanos, a tomada de decisões maladaptativa é um sintoma comum de doenças como transtornos obsessivo-compulsivos, síndrome de Tourette, transtorno de déficit de atenção, jogo patológico ou vício. Flexibilidade comportamental (cognitiva) significa que o indivíduo pode modificar seu comportamento em resposta a modificações do ambiente. Impulsividade foi definida como “ações que são mal concebidas, expressas prematuramente, indevidamente arriscadas ou inapropriadas à situação”. Diferentes formas de impulsividade foram relatadas e estudadas. 

Compulsividade se refere a “ações que persistem inapropriadas à situação, não têm relação óbvia com o objetivo geral e que frequentemente resultam em consequências indesejáveis”. O 5-HT desempenha um papel importante na dimensão impulsiva/compulsiva. Envolve sistemas monoaminérgicos do mesencéfalo, incluindo neurônios 5-HT, que se acredita moldarem interações complexas entre os córtices pré-frontal e orbital, e os gânglios da base, um grupo de estruturas subcorticais envolvidas no controle do comportamento motor. Respostas prematuras em vários testes comportamentais são frequentemente associadas à redução do tônus ​​de 5-HT. Ainda alterações nos marcadores dopaminérgicos nas mesmas regiões foram associados.

O 5-HT influencia o comportamento alimentar, sendo que mecanismos que liberam 5-HT exercem efeitos anoréticos atuando em diversas áreas cerebrais, como o hipotálamo e o núcleo do trato solitário promovendo saciedade. Ainda, por efeitos indiretos, atua nos sistemas de dopamina impedindo o comportamento impulsivo direcionado aos alimentos.

A serotonina participa do controle de interações sociais, atuando nos centros cerebrais que integram a avaliação de risco, e modifica os parâmetros comportamentais que interferem na agressividade, como a probabilidade de recuo, duração de “luta” ou início de “luta”. De forma mais geral, um nível mais alto de agressividade foi associado com níveis mais baixos de 5-HT nos tecidos, mas não é possível generalizar, pois as respostas são mediadas por diferentes receptores de serotonina, com redes numerosas, além da complexidade do comportamento agressivo.

A ansiedade é uma resposta complexa ao estresse e pode assumir várias formas, ocorre quando o estressor está ausente ou não é claramente identificado. Ansiedade e os estados ansiosos foram associados à serotonina, sendo modulada por diversos medicamentos ansiolíticos. Também diversos receptores participam da modulação da ansiedade e envolvem múltiplas regiões do cérebro e numerosas redes neurobiológicas interligadas. Atualmente, os agonistas parciais dos receptores 5-HT1AR são os agentes 5-HT prescritos para o tratamento de estados ansiosos.

Humor é a palavra para a definição de um estado emocional relativamente duradouro. Os transtornos de humor se relacionam às várias formas de depressão e transtornos bipolares. A serotonina provavelmente está envolvida nestes comportamentos, sendo relacionada à perdas nos comportamentos de “luta” ou ao estresse crônico induzido por estresse vibratório. Em indivíduos, que apresentam transtornos depressivos maiores associados à comportamento suicida, foi verificada redução de serotonina.

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O aprendizado e a memória também tem a participação do sistema 5-HT, onde o recrutamento dos receptores desempenham um papel que envolvem uma alta demanda cognitiva e melhoria da memória.

Um dos transportadores de serotonina é a OCT1 (proteína transportadora de cátions orgânicos poliespecíficos) que transporta ligantes através do hepatócito basolateral e do endotélio circulatório cerebral. É expresso em múltiplas regiões cerebrais em níveis mais baixos do que na periferia. Serve como sistema de transporte independente de Na+ e Cl de baixa afinidade para colina, acetilcolina e monoaminas (Dopamina, Norepinefrina, Epinefrina, Serotonina) para dentro e fora das células. Polimorfismos no gene SLC22A1 que codifica a OCT1 estão associadas a diferentes níveis de serotonina.  

A presença de variações genéticas, como o polimorfismo rs1137070 no gene MAOA e variações no gene SLC22A1 (que codifica o transportador OCT1), influencia diretamente os níveis de serotonina e sua modulação no cérebro. Ao identificar variantes genéticas que afetam a serotonina e suas enzimas reguladoras, o teste genético  BioMental da Biogenetika pode ajudar a prever respostas individuais a medicamentos como os inibidores seletivos da recaptação de serotonina, ajustar tratamentos para transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade, e fornecer insights sobre comportamentos impulsivos e compulsivos.

*Conceito de polimorfismo: são as variações na sequência de DNA que podem alterar as proteínas produzidas pelo organismo podendo gerando impactos para as vias envolvidas, metabolismo e saúde de quem as porta. Para ser considerado um polimorfismo esta variação precisa ser de no mínimo 1% em uma população.

REFERÊNCIAS

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