Polimorfismos dos genes COMT e MAO-B e a suscetibilidade de efeitos adversos no uso de levodopa para portadores de Doença de Parkinson
Catecol-O-metiltransferase (COMT) é uma enzima de metilação que é responsável pela degradação de catecolaminas, incluindo as monoaminas adrenalina, noradrenalina e dopamina, que são neurotransmissores; portanto, as COMTs desempenham um papel crucial na manutenção de um ambiente neuroendócrino normal.
Um polimorfismo funcional comum no exon 4 do gene COMT humano, uma substituição de G para A, muda o aminoácido de Val para Met no códon 108 na COMT solúvel ou 158 na proteína COMT ligada à membrana. A mutação missense Val108/158Met, também chamada de rs4680, leva à baixa atividade da enzima COMT, com diferença de 3 a 4 vezes na atividade entre COMT MET/MET e COMT VAL/VAL.
O gene MAO-B codifica a enzima com o mesmo nome, que degrada dopamina em terminais pré-sinápticos da substância nigra. O polimorfismo rs1799836 (A > G) no íntron 13 do gene MAO-B pode modificar a atividade enzimática da MAO-B. O alelo G está relacionado à menor atividade da enzima MAO-B no cérebro humano, havendo efeitos diferentes entre cérebro e plaquetas.
Estudos de meta-análise relacionaram o polimorfismo do gene COMT (rs4680) e do gene MAO-B (rs1799836) com o risco de discinesia induzida por levodopa (LID), movimentos musculares involuntários, um efeito colateral indesejável nos indivíduos acometidos pela Doença de Parkinson (DP) que utilizam o medicamento levodopa. Estes genes codificam as enzimas COMT e MAO-B que desempenham papéis significativos na via metabólica da dopamina, como pode ser visto na Figura 1. Para um subgrupo brasileiro, o genótipo COMT (AG) foi protetor para ocorrência de LID entre pacientes com DP, e o genótipo AA pode aumentar o risco, pois reduz a atividade enzimática de degradação da dopamina. Em outras etnias este resultado também foi observado, mas não no subgrupo asiático.
Figura 1. Resumo dos genes envolvidos no metabolismo da dopamina e vias de sinalização. TH – tirosina hidroxilase; DDC – dopa descarboxilase; VMAT – transportador de monoamina vesicular; MAO-B – mono-amina oxidase-B; DOPAC – ácido 3,4-di-hidroxifenilacético; DAT – transportador de dopamina; COMT – catecol-O-metil-transferase; DRD1-5 – receptores de dopamina 1–5; BDNF – fator neurotrófico derivado do cérebro.
De forma semelhante para o gene MAO-B, em um estudo brasileiro, os indivíduos com DP e portadores do genótipo TT apresentaram LID mais frequentemente. Outro estudo associou com LID e flutuações motoras. Indivíduos que utilizaram inibidores da MAO-B foram mais suscetíveis à discinesia, evidenciando que a baixa atividade de MAO-B é risco para LID. O gene MAO-B está localizado no cromossomo X, o que pode explicar o maior risco de LID em pacientes do sexo feminino. É importante ressaltar que idade, sexo, duração da doença, gravidade da doença, dose diária de levodopa e duração do uso de levodopa e agonista da dopamina são fatores que podem impactar no risco de LID e devem ser considerados.
Ainda, o polimorfismo Val158Met da COMT (rs4680) foi sugerido como a variante de suscetibilidade responsável pelo transtorno depressivo maior (TDM), uma doença de humor crônica mundial caracterizada por disfunção cognitiva, baixo moral, perda de peso e anedonia. Vários métodos de tratamento, como antidepressivos e terapia eletroconvulsiva, são amplamente utilizados, mas existem diferenças consideráveis na resposta ao tratamento. A genética foi implicada nesta diferença de resposta ao tratamento, em um estudo de meta-análise, sendo que dentre os indivíduos submetidos à terapia eletroconvulsiva os portadores do alelo G tiveram melhor resposta ou remissão ao tratamento.
A presença do polimorfismo para os genes COMT e MAO-B podem influenciar nos efeitos adversos do uso de levodopa no tratamento da Doença de Parkinson. O teste genético BioMental da Biogenetika pode ajudar a prever respostas individuais proporcionando informações importantes para tratamentos personalizados.
*Conceito de polimorfismo: são as variações na sequência de DNA que podem alterar as proteínas produzidas pelo organismo podendo gerando impactos para as vias envolvidas, metabolismo e saúde de quem as porta. Para ser considerado um polimorfismo esta variação precisa ser de no mínimo 1% em uma população.
REFERÊNCIAS
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